Hande Erçel ✨️ ❤️🔥
✉️ : ao menos quando eu arrancar seu ego com as minhas unhas , saberá que foi o instinto animalesco que instigou em mim
✉️ : aceito que perdi por conta do seu roubo
✉️ : perfeitamente contente em ser o sr. darcy para você então
✉️ : será que o buzzfeed está aceitando que animais criem testes agora ? vou voluntariar chaz e virginia , eles seriam capazes de montar um melhor do que esse que fez
✉️ : sonharei com você quando tiver a intenção de ter mais pesadelos do que o costume
✉️ : e camilo ? gentileza perder o meu número e só me contatar via carta
📲 [milo]: sou conhecido por instigar instintos animalescos mesmo
📲 [milo]: estou na página 54, mas vou ter que voltar algumas. as que eu li ontem, suficiente dizer que eu estava meio fora de mim
📲 [milo]: fechada, orgulhosa, pouco acessível…
📲 [milo]: mas justa não sei. pra isso, você teria que aceitar que perdeu
📲 [milo]: eu sou a elizabeth! fiz até um quiz na internet, então é um fato cientificamente comprovado
📲 [milo]: e vai ser a melhor noite da sua ;)
📲 [milo]: te mando mensagem depois com os detalhes da reserva, agora vou continuar lendo, sra darcy
📲 [milo]: sonhe comigo
o desconforto os envolvia com a mesma intensidade dos acordes vibrantes que ecoavam à medida que se aproximavam das imponentes portas de vidro pivotantes . ❝ verdade , mas você quase nunca contou com a minha determinação nessas circunstâncias. ❞ a gökçe era capaz de tudo para não se permitir vulnerabilidades ou se colocar em situações em que não pudesse exercer qualquer módico de controle . não que dançar com aaron caracterizava algo naquelas linhas — já haviam sido pares inúmeras vezes nas recepções da família durante a adolescência — , tampouco o desafio de um ritmo latino complexo , cujos passos exigiam uma maestria improvável para ambos , era o verdadeiro problema . o que realmente a inquietava eram os olhos atentos e os sussurros que os acompanhariam se qualquer passo em falso entre eles decorresse . ela já os havia enfrentado com os nervos por um fio anteriormente com christopher , expostos como estavam no coreto . dado o receio de se expor daquela maneira , seria intrigante conciliar a relutância com a postura de uma advogada bem-sucedida , habituada a enfrentar olhares e julgamentos enquanto defendia suas convicções com destemor . a diferença crucial estava na natureza da atenção que recebia , no tribunal , era a profissional sendo avaliada . ali era sua vida pessoal sob escrutínio — um aspecto que sempre zelara em preservar sob sete chaves , ainda que em khadel , o esforço para tal era uma tarefa quase hercúlea .
com um breve aceno , cedia ao inevitável . pelo entusiasmo que já percebia nos rostos dos instrutores que os aguardavam , estava claro que teriam ao menos que tentar . porém , a pergunta a fez interromper o passo antes de atravessarem o limiar do que parecia ser um vórtice , prestes a lançá-los no olho da tempestade . ❝ não sei se você subestima minha racionalidade ou superestima minha irracionalidade . mas… bem , não me dei ao luxo de cogitar que tudo isso possa ser real . ❞ não depois de já ter se ferido o suficiente para permitir que sua mente vagueasse por essa possibilidade mais uma vez . suspirou , desta vez com um peso diferente , mais denso que a mera exasperação anterior , os ombros antes impecavelmente erguidos cedendo sutilmente à gravidade do pensamento . ❝ sei exatamente o que quer dizer , mas se tudo for verdade e eu estiver equivocada no meu ceticismo , o universo fazendo de mim uma ironia cósmica , você sabe que almas gêmeas não precisam , necessariamente , ser amantes , não sabe ? ❞ se o amor era algo real e tangível , se era , de fato , necessário , neslihan acreditava que ele poderia se manifestar de formas distintas além da romântica . se essa era uma brecha nas palavras da maldição , por mais remota que fosse , talvez houvesse espaço para um afeto platônico. ❝ e eu sinceramente gostaria de não me sentir ofendida pelo fato de você considerar assustadora a possibilidade . seríamos imensamente felizes pelo resto de nossas vidas . ❞ a declaração era entrelaçada com humor , e , no fundo , ela acreditava poder ser uma verdade .
Aaron expirou lentamente, sem se dar ao trabalho de esconder o ceticismo com toda aquela situação. Mas não era um ceticismo total, claro, já que ele fazia um esforço de estar ali e realmente estava começando a ficar engajado em toda aquela história de "encontrar a alma gêmea". Observou o estúdio à sua frente, a música animada que escapava pelas frestas da porta, e depois olhou para Nes, que parecia muito mais resignada do que deveria estar. "Se essa fosse uma solução viável, eu já teria tentado em várias outras situações da minha vida." Ele permitiu que ela entrelaçasse o braço no dele, sem protesto, mas ainda visivelmente um tanto desconfortável. Ainda que tivessem dançado inúmeras vezes ao longo da vida, achava um pouco estranho considerar aquilo no contexto do encontro. "Infelizmente, acho que vamos ter que dançar de verdade." Aaron não era exatamente descoordenado, mas também nunca havia se colocado na posição de alguém que dançava salsa – e muito menos em um contexto em que a cidade inteira torcia para que aquilo fosse um passo em direção à sua alma gêmea. Ele lançou um olhar de canto para Nes, ainda contemplando a ideia absurda. "Você já pensou nisso?" perguntou, casual, mas com algo mais na voz. "Se essa coisa toda estiver certa, e a gente for, de fato, compatível?" Foi a vez dele de soltar um sorriso discreto – um que não se espalhou completamente pelo rosto. "Não sei se fico aliviado ou assustado. Você entende o que quero dizer, não entende?" Riu um pouco, pelo inesperado da situação.
"My father tells me that I'm too loud but he hasn't yet figured out that I inherited it from him, that some traits were passed down to his daughters even though he wanted to see them in sons. Had I been a boy, he would've told me to shout louder, that the world wants to hear what man has to say."
o ritmo da manicure amendoada batendo contra a madeira maciça da minúscula mesa , que já tinha o seu nome e de aaron afixado , enquanto conferia a sua caixa de mensagens em meio ao burburinho da piazza , era o único indicativo externo de inquietação de neslihan. a energia em excesso não era incomum , mas antes mesmo de consumir sua dose tripla de cafeína pela manhã? uma , quase , raridade , mais incaracterística até do que o atraso alheio . naquele momento , os minutos que o relógio caminhara além das sete horas , sequer haviam registrado , quando o timbre masculino , e pesado , fê-la saltar no assento. ❝ cavolo ! ❞ levando uma das palmas sob o ritmo repentino em seu peito , fitou atordoada o blackwell por alguns instantes. ❝ uh? ah-ainda não , estava te esperando… ❞ as horas no adereço envolto no delicado punho fizeram-na franzir o semblante momentaneamente. a gökçe jamais perdia a noção do próprio tempo . ❝ não faz mal , eu posso forçar meus horários um pouco mais tarde . ❞ o repuxar dos lábios era genuíno então , os músculos relaxando lentamente. ❝ quantas horas foram hoje ? duas ou três ? ❞ folheando o menu , mais por hábito do que necessidade , arqueou uma das sobrancelhas para ele antes de recitar o próprio pedido. gostava de variar , mas àquela altura , todos os pratos e bebidas do pequeno café , espremido entre uma floricultura e gelateria , já haviam agraciado o seu paladar. ❝ ao menos não foi acordado pelo escândalo que arrumaram por toda cidade… já teve chance de ler o jornal ? ❞ questionaria se havia conversado com alguém mais , mas era aaron em sua frente. tão improvável quanto ela acreditando em magia. com o ristretto entre as palmas , inalou o aroma inebriante antes de bebericar o líquido escuro , soltando o suspiro preso em seus pulmões desde que lera a manchete — ainda em seu roupão e com mark ruffalo deitado sob os seus pés. ❝ está preparado para o mais novo absurdo que estão inventando ? ❞ sarcasmo era tão fluente entre eles quanto o italiano ou inglês .
Aaron puxou a cadeira em frente a Nes em um movimento cansado, pedindo desculpa pela demora. Normalmente, ainda que saísse tarde do trabalho no bar, ele não costumava se atrasar. Cumpria rigorosamente — quase religiosamente — a tradição de tomar café da manhã com a melhor amiga. E, por mais que não fizesse esforço pela maioria das pessoas, ela conseguia ser sua exceção. "Você já pediu a sua comida?" Blackwell puxou o cardápio, mas já sabia o que queria, porque sempre pedida a mesma coisa todos os dias. Não gostava de mudanças. Então, ia ser o mesmo café com leite e pão com ovos de sempre. "Acabamos fechando o bar bem tarde ontem e", deu de ombros. "Sei lá, não consegui acordar". @neslihvns
FUBAR 1.05
look, i'm planted here, okay? what're you gonna do about it?
fios desalinhados , o blazer e a calça em evidente dissonância , brincos com pares trocados — o conjunto desordenado era um reflexo eloquente do estado mental de neslihan após a noite anterior e discussão com christopher . os dedos trêmulos e os olhos inquietos revelavam um turbilhão interno , uma miríade de sentimentos negativos que ameaçavam consumi-la . de alguma maneira teria de encontrar uma forma de exorcizá-los . sua presença no último dos três andares da casa comune era uma tentativa deliberada de aplacar as turbulências , e dedicar-se à produção teatral das crianças do orfanato , tarefa que assumira com zelo ao criar figurinos e cenários , trazia uma centelha de calor que gradualmente dissipava o frio que a envolvia .
imersa em pensamentos e no som dos risos infantis que respondiam aos próprios , percorria o espaço sem perceber os olhares furtivos e os sussurros que a seguiam , até que a voz suave se fez ouvir ao seu lado . a figura de pasqualina provocou uma tensão breve e quase imperceptível em seus ombros , antes que assentisse e seguisse a mais nova até o ambiente ventilado , embora um tanto estreito para acomodar ambas . a notícia sobre o estado da peça trouxe um suspiro carregado de autodepreciação . era esperado daquele dia , que , desatenta tivesse escolhido justamente o artigo com defeito , sem sequer verificar por imperfeições , como era de costume . ❝ levando em consideração o estado da minha cabeça hoje , não ficaria surpresa que outra peça também esteja se desfazendo . ❞ murmurando , exasperada envolveu parte do cabelo com uma das palmas , enquanto tentava oferecer um sorriso brando , embora sem grande convicção .
❝ consegue me ajudar a procurar por mais costuras soltas... lina ? ❞ arriscou utilizar o apelido que ouvira outros mencionarem , numa tentativa de estender um ramo de cordialidade , queria afastar a tensão que parecia reger cada interação entre elas . não sabia explicar o aperto que sentia sempre que os traços quase etéreos de pasqualina surgiam diante de si — ou melhor, sabia, mas recusava-se a tratá-la com a mesma insanidade quando vira a forma como os capel-d’angelo tratavam as opiniões dela . ❝ pensar que provavelmente desfilei por toda a cidade assim desde que saí de casa , e ninguém teve uma centelha de decência de me avisar ! ❞ a noção provocava uma pequena , e incrédula , risada . ❝ esses cucciolottos devem ter se divertido às minhas custas . ❞ entremeou as íris em bom humor . ❝ bem que os achei mais cheios de risos hoje do que o de costume . ❞ o tom carinhoso ao se referir às crianças era evidente , tangendo a afeição que não fazia questão de esconder .
starter fechado para @neslihvns local: casa comune
Os movimentos com a cabeça e os olhares apontando para a calça não foram suficientes. Pasqualina tentava avisar Neslihan de que uma pequena descostura na calça de alfaiataria aumentava a cada passo que ela dava. A peça parecia de marca e muito bem-feita, combinava com o estilo social e altivo da mulher. Lina continuava tentando apontar, discretamente, mas não conseguia atingir seu objetivo.
O murmurinho de algumas pessoas ao redor foi o suficiente para lhe dar incentivar a se aproximar de Neslihan. A postura firme e a voz imponente eram muito bem admiradas à distância, interagir com a mulher não era algo comum para Lina, o que a deixava um pouco fora de sua zona de conforto. Personalidades e intuição à parte, ela sabia que precisava logo dar um trato naquela descostura. Se não o fizesse, logo a advogada estaria expondo partes que deveriam estar bem cobertas.
"Buonasera, com licença, poderia me acompanhar aqui rapidinho?" Cumprimentou a mulher, aproximando-se rapidamente e guiando-a pelo caminho à esquerda. "Where are you taking me?" Pasqualina respondeu enquanto abria bolsa para procurar seu "kit de costura para emergências. "Ao banheiro. A sua calça está com uma pequena descostura, deve ter sido algo pontiagudo que causou isso." Falava no seu tom amistoso, com o sorriso costumeiro nos lábios, mas com menos contato visual do que de costume. "Ia ser meio estranho costurar lá no meio de todo mundo. Hmm, deixa eu ver se tenho uma linha mais próxima dessa cor...Se não, vou dar um jeitinho de improvisar."
✉️ : mas nem mesmo se quem morreu ressuscitasse , apontasse uma arma para a minha cabeça e me obrigasse
✉️ : uma noite com você atrapalhando o MEU encontro é o máximo que consigo digerir da sua presença em um mês
✉️ : e já pensou na possibilidade que eles morreram PARA escapar do amor ?
✉️ : eu até poderia continuar a nossa conversa maravilhosa , mas tenho que levar o meu cavalo para passear
✉️ : pelos próximos sete dias
✉️ : ti parlo dopo
with @neslihvns
📲 [milo]: eu disse que éramos feitos um pro outro!
📲 [milo]: não tem como escapar do amor, hani
📲 [milo]: tudo bem que o pessoal lá atrás escapou sim porque morreu todo mundo
📲 [milo]: super triste
📲 [milo]: bless their heart
📲 [milo]: enfim, o cara voltou do plano espiritual pra abrir uma cachoeira pra gente, eu acho que no mínimo tínhamos que sair pra tomar um drink e descobrir nosso destino
toda aquela troca animosa entre eles gerava em si sentimentos que não se orgulhava . christopher era capaz de desmantelar a estrutura milimetricamente composta da sua civilidade , e não da forma como camilo o fazia com provocações incessantes . a reposta que o loiro obtinha era visceral , instintiva , acre em sua raiz e degenerada em extensão . não era natural a forma com que um simples olhar alheio era capaz de gerar tamanho asco , não para si . o motivo , no entanto , era nítido em suas convicções , e acreditava que nem mesmo para salvar a própria alma seria capaz de enxergá-lo por outro viés que não a ótica turva e enrijecida . os ombros curvavam-se novamente a cada palavra que escapava no tom plácido , como uma cobra enrolando contra o próprio centro ao preparar-se para um bote . os demônios que habitavam uma parte crua e descontrolada de si , acordando do estupor que ela insistia em colocá-los . afundando as unhas na bancada pegajosa até que o eco de dor fosse suficiente para perfurar a nuvem viperina que ofuscava seu senso , replicou o riso vazio , cansada .
❝ eu afirmei que você é uma fraude , não uma fraude incompetente . ❞ o gesto de indiferença com o corpo era despreocupado , não traindo inquietação alguma . ❝ você não faz ideia do que a sua vitória custou . não a mim , eu sou capaz de lidar com minhas frustrações , mas aos que perderam para um homem vil , corrupto e com influência suficiente para comprar juízes e jures e sair impune de um crime que nós dois sabemos que ele cometeu . ❞ a insinuação de que o caso havia sido ganho às custas de subornos era intencional , não que ela realmente acreditasse nas palavras . atribuía a derrota , em parte , ao impecável trabalho paterno de encobrir todo , e qualquer , vestígio de evidências concretas o bastante para montar um caso sólido , e , em parte , às próprias emoções em relação ao homem , nocivas e cegantes . suficientes para fazê-la pensar que algo capaz de abalá-lo fosse tão simples . ❝ mas não espero algo diferente vindo de você . ❞ não se importava com o motivo para o outro seguir às cegas o comando do próprio pai , sabia que era impossível ele defender indivíduos como kadir şahverdi e permanecer inocente .
com a citação pedante de filósofos , a morena apenas meneou os fios de maneira cética , a expressão fleumática cedendo sob a pressão de um sorriso sardônico . ❝ tudo isso e , ainda assim , não é capaz de responder a um simples questionamento que poderia ter sido ilustrado por uma criança . ❞ circulando os dedos pela borda no copo , agora contendo apenas uma fina fatia de laranja , era uma tentativa de refrear as reações físicas ante o humor que o enchia ao analisar suas palavras . ele chegava a conclusões fundadas na forma que ele escolhia observá-la , uma análoga à sua em relação a ele , ainda que a sua tivesse sido construída com base em precedentes e não meras suposições regadas por pura arrogância masculina .
❝ cuidado , christopher , parece que você está projetando o que acha de si mesmo em mim . o que , francamente , é fascinante . ❞ a fala alheia , de maneira sinistra , ecoava quase verbatim o que ela pensava sobre ele . ❝ não , não uma deusa , embora o pensamento seja lisonjeiro . apenas alguém que reconhece o que há de errado nesse mundo , e , felizmente , faz o que está ao seu alcance para remediar o possível . ❞ o sorriso era quase sacarino , embora mesclasse com a peçonha em sua língua . ❝ oh , não . eu sei que sou cheia de falhas , e entre a maior delas está ceder meu tempo e intelecto a discussões com pessoas como você . ❞ neslihan não julgava-se perfeita , pelo contrário . encontrava mais erros em si do que em qualquer outro ser humano , e flagelava-se por tal , não que ele jamais pudesse cogitar a possibilidade . já sua natureza controladora advinha da aceitação de sua forma maculada e imperfeita , era a única maneira que encontrara de conseguir garantir que o passado não se repetisse e se entregasse aos caprichos de uma psique fragilizada . o riso que escapava por entre os dentes era quase inaudível ao fixar as íris às dele . ❝ realmente quer falar sobre a minha moral ser duvidosa , quando você está envolvido até a cabeça com corporações que sugam a alma da humanidade ? ❞
era impressionante a maneira como ele provava a cada segundo as contradições que o regiam . como ele era capaz de conviver com tamanha hipocrisia o conduzindo , era algo que ela analisaria com admiração , não fosse preocupante . ❝ como você parece ter a certeza de que me escondo de tudo e todos é surpreendente . ❞ apoiando o queixo contra a palma destra que se sustentava no balcão , solevou uma das sobrancelhas em escárnio ao encará-lo completamente . ❝ você verdadeiramente acha que sabe quem eu sou , não acha ? ❞ cruzando uma perna sobre a outra , continuou . ❝ quem realmente me conhece , também , pasme , sabe de cada detalhe sobre mim . assim como qualquer outra pessoa . ou a sua prepotência é tão grande ao ponto de achar que somente você possui verdadeiros amigos ? ❞ reproduziu o tom que inferia a ausência dele em seu círculo de proximidade , e ela agradecia aos cosmos por tamanha clemência .
verdadeiramente exaurida , as palavras trocadas , aliadas à negatividade que a todo custo tentava conter em cada uma de suas sentenças e gestos calculados , a esgotavam . e apesar da calmaria que se apossava de seus músculos , as veias zuniam em sua têmpora com o esforço de manter-se sob o véu da polidez social . se pudesse , as mãos já estariam envoltas no pescoço alheio , sentindo o pulso vigoroso se esvair com os segundos . o pensamento era elucidante da real deterioração do seu estado mental e ao percebê-lo depositando as notas no balcão , puxou a própria carteira da bolsa , descruzando as pernas . deixando os euros flutuarem brevemente até encontrarem a madeira , os ofereceu ao bartender com um sorriso suave e uma piscadela de agradecimento . levantando-se , recolheu as peças descartadas que compunham seu guarda roupa , antes de ousar um último visual do rizzo . ❝ não é troco , chama-se gorjeta , e é uma prática comum na sociedade . ❞ deu as costas antes que ele o pudesse fazer primeiro . tomando profundas respirações , exclamou sem olhá-lo antes de desaparecer do campo de visão masculino. ❝ saúde ! que você continue exatamente como é , será garantia suficiente de que morrerá sozinho . ❞
@khdpontos
A palavra fraude repetia em sua mente como um eco distante, fazendo com que um riso sem qualquer traço de humor escapasse por seus lábios. Mal sabia ela que outra carreira era tudo o que ele quis desde quando aprendeu a ler. No entanto, ela não estava errada sobre sua capacidade de ler as pessoas, Christopher era realmente bom em reconhecer comportamentos e em perceber detalhes que na grande maioria das vezes escapavam dos olhos da grande maioria. Sua capacidade de se colocar tanto na pele dos clientes que recebia como na pele daqueles que enfrentaria em um tribunal era justamente o que o tornava um advogado acima da média e também o que fazia ele ter ainda mais raiva da profissão que exercia. Ser um advogado exigia que ele fosse imparcial e ser imparcial, na grande maioria das vezes, exigia ir contra tudo o que ele acreditava. Neslihan não sabia, mas vencê-la no tribunal não havia trazido nenhum bem-estar pessoal para Christopher que sabia muito bem o tipo de pessoa que o pai dela era. No entanto, seu fracasso implicava em uma perturbação da tênue linha de paz entre ele e o pai, o que por sua vez poderia resultar em estresses para a mãe, e isso era algo que ele não arriscaria, mesmo que significasse ter de lidar com a miséria causada pela vitória depois. Talvez se ela o tivesse chamado de hipócrita, ele ficaria mais tentado a concordar com ela.
"Bom, se você acredita que eu sou uma fraude, talvez devesse olhar para si mesma, já que sabemos quem acabou levando a melhor no último embate." A máscara de tranquilidade mantinha-se intacta, enquanto ele a ouvia recitar vários de seus autores favoritos. "Miserável, imperfeito, assim é o mundo e o mais perfeito de seus fenômenos, o homem." Citou Schopenhauer, um dos autores que costumava ler em momentos não muito bons, mas que o pessimismo do mesmo em relação a humanidade muitas vezes ia de encontro ao próprio estado de espírito. "O ser humano é como uma folha em branco." Agora foi a vez de Locke, que o fez sorrir brevemente. "Todos os seres humanos são falhos, incompletos, mas ainda sim dotados de capacidade cognitiva para trilhar o próprio caminho, escrever sua própria história e com um senso do que é certo e errado que, por n motivos, pode não ser igual para todos. Por isso que podem haver conhecimentos similares, mas que foram adquiridos e interpretados de diferentes formas." Disse em um tom neutro, como se toda a irritação do momento houvesse desaparecido. " Você assume que eu nunca senti o amor porquê você não o sentiu, o que de certa forma não me surpreende, já que é mais do que nítido o tipo de sentimentos que possuem lugar na sua vida." Pela primeira vez, os olhos encontraram os dela, notando ali o mesmo tipo de incômodo que sentia. Quase sorriu de satisfação. "Enfim, tudo isso pra te dizer que eu não saber dar uma descrição exata não é advento da ausência do amor na minha vida, e sim porque existem tantas formas e maneiras de falar sobre ele, que se torna impossível colocar tudo em uma única resposta." No fundo ele sabia que sua resposta havia sido um tanto quanto vaga, mas acreditava o suficiente no que havia dito para soar completamente convincente.
A risada que seguiu após a fala dela, dessa vez, foi mais alta e carregada de um divertimento genuíno. "Fala sério, você consegue se ouvir?" Perguntou, sua expressão claramente incrédula. "Pra alguém que se diz tão cheia de virtudes e boas intenções, bastou um instante para se provar a pessoa hipócrita e arrogante que você realmente é." Tornou a dar risada. "Moralmente inferiores a mim. " Christopher repetiu a fala dela entre risos. "E quem diabos você é pra se julgar superior a alguém? Uma deusa? Uma inteligência artificial? Você é tão cheia de falhas como qualquer pessoa, só que se enfia em um mundo onde finge não existem porque no fim das contas você é tão controladora que só de pensar em perder um pouco do controle sobre essa máscara de perfeição que veste com tanto orgulho já é mais do que suficiente para te deixar desesperada." Ele balançou a cabeça para os lados levemente. "Sua moral é tão duvidosa quanto a de qualquer outro ser humano, só difere o fato de que você não é capaz de aceitar isso."
Um riso soprado saiu por seus lábios e a mão tornou a circular o copo que mais uma vez foi de encontro aos lábios e só voltou para a mesa após ele sorver todo seu conteúdo. Achava cômico que ela tentasse atingi-lo o chamando de monstro, afinal, ele mesmo pensava coisas bem piores sobre si mesmo. Christopher gostava de se definir como uma pessoa consiente, que sabia suas qualidades e defeitos e lutava constantemente contras as partes ruins afim de atingir um amadurecimento pessoal. No entanto, as vezes era difícil se ater ao processo de melhora, especialmente quando já não sentia nem um respingo de paciência em si. "Diferentemente de você, eu não escondo quem eu sou de verdade, ao menos, as pessoas que realmente - a ênfase na palavra deixava claro que ela não participava desse grupo de pessoas - me conhecem, sabem tudo ao meu respeito." Ergueu levemente os ombros, como se a fala dela não o tivesse afetado em nada, mas na verdade sentia como se seu sangue estivesse borbulhando.
"E que ela te traga um pingo de humildade, pra ver se talvez um pouco dessa amargura desapareça." Respondeu de forma sarcástica enquanto negava que o atendendente colocasse mais uma dose. Sem perguntar o quanto havia gastado, colocou a mão do bolso de puxou algumas notas que carregava consigo. O valor posto sobre a mesa provavelmente cobria a conta dele, dela e de mais umas três pessoas sobre a bancada. "Pode ficar com o troco. Mais do que merecido por ter que suportar um certo tipo de clientela." Claro que não se referia apenas a Neslihan, mas não se alongaria. Em seguida, se preparava para deixar o local antes que a conversa entre os dois desse seguimento.
àquela altura , com a intervenção constante do que parecia ser cada um dos milhares de habitantes de khadel em sua vida , neslihan já havia internalizado que a melhor forma de atravessar aquela maré de acontecimentos , da maneira mais indolor possível — e sem estilhaçar a esperança que poderia ver refletida em cada um dos olhares curiosos que a seguiam com crescente atenção desde o anúncio de olivia — , era apenas acenar em cordialidade , e aquiescer , sem protestos ou a usual argumentação incansável , cada encontro que se apresentasse . era quase cômica a maneira como insistiam em formar pares completamente improváveis , apesar da clara colocação da boscharino de que apenas os dez nomes citados estavam , teoricamente , ligados àquele desamor secular que pairava sobre a cidade como um manto invisível . e por cômico , em realidade , ousaria dizer frustrante , mas em mais um dia em meio à tempestade , ela tentava , com alguma determinação , focar nos aspectos positivos , se esquivando daquela voz assombrosa ainda ecoando em sua mente . ainda que pudesse sentir os tentáculos da irracionalidade se esforçando para se apoderar da sua razão , ela , com fervor , atinha-se à noção de que , sim , poderia enfrentar o maior número de encontros possíveis , até um próximo evento roubar a atenção de todos e os livrar daquele redemoinho de insanidade .
o rendezvous daquele dia , por sua vez , era orquestrado por uma pessoa querida , uma antiga funcionária dos şahverdi , cuja doçura e luminosidade fazia impossível dirigir negativa qualquer . o entusiasmo de signora gioconda era palpável , e a descrição feita era de alguém que , embora ela não tivesse qualquer intenção de cultivar uma conexão emocional , poderia ser uma alma companheira com tantas similaridades postas . as íris acendiam com humor e vivacidade ao recordar o ânimo da mulher , enquanto dirigia pelo caminho entre a villa gökçe e o centro de khadel . os cumprimentos se sucederam desde o momento em que saía do veículo , em uma das ruas laterais , pitoresca e charmosa , com os cachos de rosas pendendo das janelas , e bouganvilles adornando cada passo equilibrado nos saltos . as bochechas doíam , forçadas a manter uma expressão afável , embora não fosse totalmente infundada , e os bíceps , ainda doloridos pela queda , permaneciam dormentes em acenos infinitos , mas genuínos o suficiente para serem mantidos .
virando a esquina , o coreto surgia à sua frente , a estrutura encantadora cativando olhares com a miríade de cores e aromas que se fundiam harmoniosamente . embora a ideia do amor fosse algo inconcebível para si , o conceito de romance era um que cortejava as partes mais íntimas de seu ser . era impressionante como gestos simples podiam carregar uma dedicação tão imensa , declarando um compromisso profundo e um apreço pelo outro , embora ela mesma não fosse de apreciá-los da mesma forma . não , neslihan possuía um modo único , e quase patenteado , de demonstrar a sua lealdade e não era através de flores mortas e palavras derramadas em excessividade . porém , era inegável a beleza do quadro pintado diante de si .
ao contornar o gazebo com certa lentidão , o olhar percorria cada detalhe , até encontrar com o de quem recordava ser um dos funcionários do la bottega . dele , aceitou uma peônia vermelha , sua flor preferida , na cor favorita — embora a mulher a teria apreciado muito mais se ainda estivesse ligada aos seus rizomas . segurando-a delicadamente em uma das palmas , levou a outra até os óculos escuros , que a protegiam da intensidade do céu límpido . com um repuxar sincero dos lábios , subia os poucos degraus até o interior , mantendo a atenção em agradecimento ao mais jovem , quando a voz dolorosamente reconhecível a fez parar instantaneamente . virando-se com rapidez suficiente para açoitar alguém com os fios castanhos soltos , engoliu um grunhido , amassando a pobre flor no aperto . por sorte , o caule era desprovido de espinhos , ou os mesmos já estariam cravados na pele .
o que precisamente gioconda estava pensando , foi o primeiro de seus questionamentos , seguido por , como ela havia conseguido convencer o loiro daquela farsa fadada ao fracasso . tomando uma respiração profunda e retesando os ombros como forma de armar-se para o que certamente seguiria , cruzou a distância até o estofado luxuoso que parecia ter sido colocado ali unicamente para eles . a mesa impecavelmente posta com comidas cuidadosamente selecionadas e que evocavam memórias de sua infância , fez com que ela parasse por milésimos , antes de retornar as orbes para christopher . ❝ seja pegadinha ou não , o que , isso aqui , sinceramente , ultrapassa , eu tenho uma promessa a cumprir . ❞ conferiu , o tom baixo para que somente ele pudesse ouvir . depositando a peônia no assento de veludo , o contornou , antes de sentar-se com leve hesitação . ❝ e eu sugeriria que parasse com isso , fica parecendo um idiota , embora não precise de ajuda para tal . ❞ referindo ao gesto quase teatral que ele seguia com a cabeça , o sorriso retornou para as feições , agora milimetricamente fabricado e tenso . ❝ mesmo que não haja câmera alguma para registrar esse acidente em percurso , posso sentir pelo menos cinco pares de olhos me observando de todos os lados . ❞ a perspectiva de ter que interpretar mais uma cena com o homem , agora com a adição dos sussurros que já podia sentir circulando , deixava um toque amargo na língua . ❝ e não sei você , mas eu não quero ser reportada como a responsável por manter essa ridícula maldição . ❞ cruzando uma perna sobre a outra , solevou uma das sobrancelhas em questionamento , no mesmo instante em que captou o cheiro de mücver . e aquele prato branco... era cacık , bem ao lado dos gözlemlere ? ou seria çılbır . elevando a canhota ao estômago , tentando disfarçar o fato de que não havia tomado nem mesmo uma xícara de café em preparação ao brunch , esperou em suspense uma resposta . independentemente , neslihan não permitira que os pratos , que agora tinha a certeza deterem sido preparados pelas mãos de gioconda , fossem desperdiçados .
with @neslihvns, at Coreto de Rose.
Desde o dia em que Olívia, em um ato deliberado, decidiu expor publicamente na praça a existência da maldição e declarou Christopher como sua possível alma gêmea, sua vida se transformou em uma constante fuga de encontros arranjados. A situação era frustrante ao extremo, especialmente porque ele sequer acreditava na possibilidade de aquilo ser real, algo que fazia questão de deixar claro sempre que podia. No entanto, suas palavras pareciam cair em ouvidos surdos. Ignorando suas objeções, as pessoas continuavam marcando encontros em seu nome ou lhe dando longas palestras sobre o porquê ele deveria se dedicar mais a encontrar sua suposta alma gêmea. Christopher já não tinha mais forças para argumentar ou tentar convencer ninguém de que toda aquela história era absurda. Ele estava cansado das discussões, e sua paciência parecia se esgotar cada vez mais rápido. Depois do episódio na cachoeira, algo dentro dele vacilou. Embora se recusasse a admitir em voz alta, uma pequena parte de sua mente começou a ponderar se talvez houvesse algum fundo de verdade naquela loucura. Mas esse pensamento permaneceu trancado dentro dele, enterrado sob uma fachada de descrença teimosa. Sem energia para continuar resistindo, ele começou a adotar uma estratégia de sobrevivência: simplesmente concordava. Afinal, o pior que poderia acontecer era ele não aparecer, dependendo de quem estivesse esperando por ele. No entanto, naquele dia específico, fugir não era uma opção. O organizador da vez tinha recorrido a um método infalível para garantir sua presença: envolver a mãe de Christopher na situação. E, bem, dizer "não" para ela era algo que ele jamais conseguiria fazer, dada sua condição.
O dia estava particularmente belo, com o sol iluminando tudo ao redor em sua plena intensidade, mas sem o incômodo de um calor abrasivo. Uma brisa suave serpenteava pelo ar, trazendo um frescor sutil que tornava o clima ainda mais agradável. O céu, de um azul profundo, era pontilhado por poucas nuvens, como pinceladas leves em uma tela. Acompanhado por uma das pessoas responsáveis por organizar o encontro, Christopher seguia em direção ao interior do Coreto, caminhando com passos calmos enquanto seus olhos captavam os detalhes ao redor. Os olhos percorriam as oferendas que agora preenchiam o local com uma abundância ainda maior desde que a quebra da maldição se tornara uma realidade em Khadel. Mesmo que uma parte cínica de sua mente considerasse o motivo dos tributos um tanto trivial, ele não podia ignorar a beleza que cada detalhe carregava.
As flores, em um festival de cores e formas, estavam dispostas de maneira quase poética. Algumas eram selvagens, outras cuidadosamente escolhidas, mas todas exalavam uma energia vibrante. Entre elas, pequenos objetos pessoais chamavam sua atenção – talismãs, fotos e pequenos itens cuidadosamente deixados ali, como se carregassem o peso de sentimentos profundos. Cartas escritas à mão, com caligrafias tão distintas quanto os autores, estavam presas com fitas coloridas que tremulavam suavemente ao toque da brisa, acrescentando um movimento delicado àquela cena já tão viva. Ele parou por um momento, deixando os olhos vagarem por tudo ao redor. Havia algo inegavelmente encantador naquela simplicidade cheia de significado. Pela primeira vez, Christopher sentiu que entendia o apelo romântico do lugar.
Agradeceu a pessoa que o havia levado até a mesa e passou a observar as comidas espalhadas sobre ela enquanto se acomodava no sofá. Reconheceu ali alguns dos pratos que havia dado como referência quando perguntado anteriormente sobre suas comidas favoritas, no entanto, era os que não haviam sido mencionados que chamavam sua atenção. Aquele treco branco é tofu? Quem que come essa porcaria? Me arrumaram um encontro as cegas com uma vegetariana? pensava enquanto encarava alguns dos pratos com o cenho franzido. No entanto, o barulho de passos fez com que sua atenção fosse redirecionada, e foi só então que entendeu. Claro que seria ela. "Isso só pode ser uma pegadinha." Disse, totalmente incrédulo que alguém havia achado um encontro entre eles uma boa coisa. "Onde estão as câmeras?" Perguntou, olhando para os lados enquanto aos poucos a compreensão do motivo do encontro ser as cegas o atingia como um soco.
𝒕𝒉𝒆 𝒂𝒄𝒕𝒊𝒗𝒊𝒔𝒕 ! neslihan gökçe , 29 , human rights lawyer . can you hear my heart beating like a hammer ?
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