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3 months ago
Sob A Penumbra Das Luzes Fluorescentes , O Coração De Neslihan Pulsava Com Uma Intensidade Incomum

sob a penumbra das luzes fluorescentes , o coração de neslihan pulsava com uma intensidade incomum , como se buscasse , em seu próprio ritmo , uma fuga para o labirinto em que ela o aprisionara , amordaçado e vendado . seu olhar vagueava pelas feições que surgiam e desapareciam , tão volúveis quanto o bruxulear das velas , dançando ao sabor de um vento suave que acariciava o ambiente como um toque de afeição . a gökçe proferia as palavras por obrigação , a mente ainda presa nas sombras do que enfrentara por dias para conseguir o broche nas mãos de pasqualina . a entonação era tênue , como a convicção de que algo ali fosse verdadeiro , mesmo que o porta-retratos , com a fotografia de uma infância há muito vivida , parecesse irradiar calor para a palma única , ainda em cicatrização , que o mantinha em um firme aperto .

e então , a mesma sensação que a envolvera ao tocar o objeto guardado pelo gelo e pela neve ressurgiu em seu corpo , um peso ancestral sobre seus ombros e a atmosfera quase tangível que arrepiava sua pele , como se ela estivesse de volta às temperaturas glaciais . vozes , estranhas e desconexas , ecoavam em seus ouvidos , os timbres e falas imprecisos demais para fazer qualquer sentido — reverberando dolorosamente nos ossos femininos , simultaneamente misteriosamente familiares e estranhamente distantes . as íris que pouco antes haviam revirado diante da teatralidade de zafira , agora tremulavam por um motivo completamente diferente . a angústia por algo inexplicável substituía o oxigênio nos pulmões da turca , restringindo suas respirações com uma apreensão sufocante e desespero . os sentimentos não lhe eram estranhos , mas ali não havia razão aparente para existirem , bem como a sensação lancinante que se espalhava por seus nervos , fazendo as cicatrizes em sua palma vibrarem junto ao ombro deslocado em aflição aguda .

por uma eternidade que se estendeu pelo que pareceu ser um século , seu corpo se tensionava sob o vigor das emoções à deriva , até o cintilar muto de nove das velas se extinguir e cessar qualquer noção . para a única chama ainda acesa , alívio fisgou neslihan . com uma respiração profunda — a primeira talvez desde que tomara a posse de serena — , assentiu para si mesma , irritação retornando ao resvalar o olhar com o de camilo . mesmo que não acreditasse na encenação que se desenrolava , não era de seu feitio exalar ao universo o que não esperava que se concretizasse . ter os dois unidos , mesmo que por objetos pertencentes a um casal trágico do passado , era uma ideia desastrosa — especialmente considerando as reações que a simples presença dele vinha suscitando nela desde o jantar . não importava que um aperto se formara instantaneamente na base de sua espinha ao ver o brilho alaranjado da chama oscilando sobre a parafina de uma única vela . o que à turca realmente importava era que , mais uma vez , seu ceticismo havia sido validado , embora , dessa vez , às custas de olhares melancólicos e expressões abaladas de alguns .

@khdpontos


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3 months ago
Missing Object : O Broche De Kimberly By : @aaronblackwell & @neslihvns 📍 Monte Cielo - Polizzi Generosa
Missing Object : O Broche De Kimberly By : @aaronblackwell & @neslihvns 📍 Monte Cielo - Polizzi Generosa

missing object : o broche de kimberly by : @aaronblackwell & @neslihvns 📍 monte cielo - polizzi generosa , região metropolitana de palermo . sicília !

Aaron estava sentado diante do laptop, a tela iluminando seu rosto cansado. O Monte Cielo era um desafio real, muito além de uma simples escalada. Ele analisava mapas topográficos, cruzava informações meteorológicas e lia relatórios de expedições anteriores – as poucas que tinham voltado para contar a história. O tempo ali era instável, as tempestades podiam se formar em questão de horas, e o gelo acumulado tornava tudo mais traiçoeiro. O que mais chamava sua atenção, no entanto, era a falta de registros sobre o Vale dos Desaparecidos. Nenhuma informação concreta, nenhuma explicação plausível. Apenas teorias e lendas.

Ele já teria descartado isso antes. Mas agora? Agora ele estava aceitando que talvez existisse algo além do que a lógica poderia explicar. Não era só o mistério do monte, ou o fato de todos que tentaram voltar de lá saírem confusos, era tudo que estava acontecendo com eles. A maldição, as coincidências que não pareciam coincidências, e principalmente... Nes. A presença constante dela em sua vida, a parceria entre eles, a sintonia e as similaridades. Blackwell passou muito tempo pensando na história das almas gêmeas e em como talvez Nes ocupasse um lugar outro, ainda mais especial para ele, de irmã, de quem ele podia contar. 

Por mais que Neslihan ainda nutrisse profunda resistência em aceitar que aquilo tudo poderia envolvê-la de qualquer forma que fosse, Aaron parecia querer desvendar e ponderar sobre o mistério, Olivia parecia querer encontrar verdadeiro amor em sua vida — e desconfiava dos motivos para tal —, e não havia medo de condenar alguém a passar o resto da vida consigo no mundo que a faria rejeitar duas das mais importantes presenças em sua vida. Obra do acaso, ou não, porque ela tinha um quê de dúvida acerca da imparcialidade de Aaron com aquela divisão, a Gökçe o tinha ao seu lado, e fora o único motivo por ceder mais facilmente às demandas de Zafira. As passagens, reservas e credenciais eram todas adquiridas com relutância, bem como o guia, que, por segurança ante as informações que recebera de Ace, vira-se obrigada a contratar.

Palermo. A cidade conversava com Neslihan pela confluência de culturas que a compunha, assim como fazia com a mulher, pela arte e pela gastronomia. O azul do Tirreno a acalmava, talvez pela possibilidade de perder-se na imensidão que comportava. A Sicília como o afago de uma avó, que ela nunca conhecera, mas na ilha sentia o calor do afeto. Chegar até o local era relativamente fácil, a viagem de carro até Florença era carregada de uma tensão sutil, embora as palavras entre eles fluíssem com a familiaridade de mais de duas décadas. Já o voo de pouco mais de uma hora era passado em completo silêncio, os pensamentos perambulando de um canto a outro do mundo ante as possibilidades e a monumentalidade do que o futuro reservava. Com o desembarque, outro carro elétrico os esperava, e a distância entre o aeroporto e o Grand Hotel et des Palmes era percorrida em um piscar de olhos ressecados e pálpebras em espasmo, inquietação e apreensão consumindo cada terminação nervosa do próprio corpo. Com os nomes deles dados na recepção, era como um anúncio apocalíptico do que os esperava. A noite que deveria ser um interlúdio de descanso, logo tornou-se um turbilhão de inquietude, e a mulher viu-se tentada a procurar alento no imprevisível, somente a noção de que Aaron estava a alguns metros longe de si, fez com que se contentasse com inúmeras voltas na piscina, o gélido da água cortando a apreensão que se alastrava por seus membros.

As mochilas abastecidas de provisões os esperavam na manhã seguinte, ambas fixas ao aperto de Alessandro, quem os orientaria e guiaria o caminho pelo Monte e Vale. A expressão adornando o rosto alheio só poderia ser descrita como contrária e reticente, e um toque apreensivo se esgueirou pela consciência de Neslihan, mas a urgência em suas veias logo fez com que o raciocínio se dissipasse. O navegador dava as direções enquanto tensão pesava nos ombros femininos, o volante agindo como amortecedor para o aperto de suas palmas, Aaron ao seu lado, tão taciturno quanto a introspecção que ela adotava. Sandro parecia inquieto, os olhos perambulando pelo interior do carro, pela vista panorâmica da ilha, encarando as próprias mãos e com respostas de apenas uma palavra por todo o trajeto de quase duas horas até o Monte Cielo.

O pico glacial reluzia sob o céu límpido, o gelo refletindo como um diamante. Mesmo ao pé da cordilheira o ar já era lancinante, fisgando os pulmões e cortando as bochechas. Com um longo olhar trocado entre eles, ergueram a bolsa contendo os equipamentos que ele havia alugado, retirando as roupas apropriadas e as vestindo por cima das camadas térmicas que Alessandro havia os instruído a portar. A previsão era inconstante, como parecia ser a norma nos arredores da cadeia de montanhas que tinha o Cielo como o maior pico, e não sabendo o que exatamente os esperaria, equipavam-se com piolets, arneses, celulares analógicos, crampons, GPSs com bússola, capacetes, luvas, bastões, cordas, botas e barracas térmicas. Garrafas com água e comidas eram mantidas separadas, em compartimentos impermeabilizados e próprios, de fácil acesso. Por sorte, ambos possuíam um bom condicionamento físico e apenas uma aclimatação de algumas horas, nas partes mais planas e baixas do Monte, fora necessária.

A centenas de metros do nível do Tirreno, Aaron e Neslihan então começavam a ascensão de milhares de metros até o topo, para então se aventurarem no desconhecido do Vale, onde o suposto avião havia desaparecido há quase um século. O terreno íngreme era a menor das preocupações, quando glaciares repletos de crevasses tornavam cada passo incerto. Nevascas os faziam se agarrar à encosta da montanha traiçoeira, por horas incapazes de sequer enxergarem um ao outro, apenas o instinto comunicando que não haviam perdido a conexão que os mantinha próximos. Em meio às tempestades, a neve parecia se intensificar a cada centímetro que se aproximavam do pico, a barraca se tornando inútil, impossível de ser utilizada com o entardecer. Com a junção de vento e rocha os punindo, conseguiam apenas aterem-se aos bastões cravados no aclive de gelo. Neslihan era incapaz de pensamentos além de súplicas ao universo, o coração apertando a cada movimento que os aproximava do desconhecido. Não era bem aquele tipo de adrenalina que ela gostava de se alimentar.

No caminho, o cansaço pesava. O frio, a altitude, o tempo. Cada passo parecia um esforço monumental, e o pior era saber que isso ainda não era nem metade da batalha. Ele segurava firme os equipamentos, tentava manter a clareza para que pudessem continuar. Mas ele estava esgotado. Mental e fisicamente.

Missing Object : O Broche De Kimberly By : @aaronblackwell & @neslihvns 📍 Monte Cielo - Polizzi Generosa

A subida, que deveria ter sido finalizada em um dia, já tomava quase dois, e cada segundo era um fôlego roubado de seu futuro. Um peso de centenas de anos parecia afixado ao seu peito, os braços tremulando e pernas cedendo ao terreno irregular e enganoso. A garganta se fechava e a respiração ofegante não era somente pelo esforço físico, mas por puro medo de perder Ace, de jamais chegarem ao outro lado quando tinham tomado para si aquela responsabilidade. O sentimento pujante tomava conta de cada terminação nervosa da Gökçe. Ao mesmo tempo em que perdia o equilíbrio em uma das passagens estreitas, somente o aperto de Aaron a mantendo como membro do reino dos vivos, praguejava Zafira, Khadel, Rose e quem quer que estivesse envolvido naquela sandice que a colocava à beira de um colapso.

À medida que as horas passavam na montanha carregada de neve e os perigos iam aumentando, Aaron se sentia quase sufocado pelo medo de algo acontecer com sua parceira, sua dupla, a pessoa que esteve ao seu lado nos melhores e nos piores momentos. Era um medo absurdo e irracional de perdê-la. Ele sempre cuidou dela, de um jeito ou de outro. Mas a viagem estava deixando tudo mais claro. O medo que sentiu ao vê-la quase perder o equilíbrio em uma das trilhas íngremes, a maneira como seu coração apertava toda vez que o tempo fechava de repente e ela desaparecia de vista por um segundo. Ele sempre viu Nes como sua melhor amiga, sua parceira de caos. Mas e se fosse mais do que isso? As coisas estavam confusas demais naquele momento e Aaron decidiu que talvez não fosse a hora de descartar hipóteses de maneira tão enfática.

Então, como o raiar de um novo dia, o topo estava diante deles. Deserto, desprovido de nuvens, a visão era vasta, e de onde estavam, o ar rarefeito e o cansaço físico faziam do pico uma miragem, um oásis de calmaria. Resfolegando, Neslihan, pela primeira vez desde que encontrara os olhos de Aaron na comuna de Polizzi Generosa, deixava que seu olhar se firmasse ao dele novamente. As íris se embaçavam com lágrimas, rapidamente contidas, mas permitia que as palmas enluvadas fizessem o caminho até as dele, sentindo a segurança que ele exalava, mesmo que exaurido, como ela. 

Deveriam ter esperado, passado a noite descansando os músculos esgotados e recuperando a sanidade, permitindo que as mentes se acalmassem, mas já haviam perdido tempo demais na subida, e tempo era a essência. O Vale os aguardava, clamando por eles, uma força maior que os puxava para o epicentro do desconhecido. O vão entre o Monte Cielo e o Monte Vespero era o lar do Valle degli Sconosciuti, completamente inexplorado e isolado. Quase mítico, nem a mais extensa das pesquisas tinha fornecido detalhes concretos a Neslihan e Aaron. Sabiam apenas que o gelo que cobria o local era quase impenetrável, soterrando qualquer vestígio da queda secular. Com apenas algumas horas ociosas, eles discutiam possibilidades e planos, enquanto Sandro permanecia alheio, e quando se levantaram, vestindo, calçando e prendendo os equipamentos, o motivo por tal logo se revelou.

Alessandro anunciou que os levaria apenas até aquele determinado ponto. E ele não parecia do tipo que recuava fácil. Aquilo acendeu um certo alerta de perigo na mente cautelosa de Aaron, a preocupação parecia aumentar cada vez mais e ele se perguntava se talvez não fosse melhor pegar na mão de Nes, dizer que tudo ia ficar bem e abortar a missão. Será que valia tanto a pena assim descobrir quem era sua alma gêmea? De que valeria saber de qualquer coisa se havia um grande risco de morrerem? ❛ Daqui em diante, vocês estão sozinhos ❜, foi o que disse, quase como um aviso. Aaron deveria ter escutado. Deveria ter reconsiderado. Mas Nes já tinha conseguido as autorizações, e não era como se ele fosse deixá-la seguir sozinha. E se havia uma coisa que sabia sobre a amiga, é que ela conseguia ser cabeça dura quando queria. Ainda mais do que ele.

Os olhos de Neslihan faiscavam em fúria, e não fosse pela necessidade do piolet para o retorno, teria arremessado o objeto pontiagudo na figura do homem de meia idade. Se ela pudesse, teria o enterrado no declive, para nunca mais ser encontrado. Fosse ela um pouco mais cuidadosa em seu raciocínio, anuviado pela impetuosidade dos sentimentos de indignação e raiva, um sinal teria ascendido aos pensamentos, um aviso de cautela em seu consciente. Com profanidades na ponta da língua, somente a urgência de seguir em frente e acabar com aquele mistério que parecia intrigar o Blackwell e algum dos outros, fez com que ela lançasse apenas o mais vil dos olhares a Alessandro, antes de seguir a passadas firmes as imediações do pico até o outro lado.

De acordo com o mapeamento feito por Aaron, deveriam permanecer na encosta no sentido Sul por alguns quilômetros e então Leste. A apenas alguns passos na direção necessária, uma cortina de neve parecia cair sobre eles, como se eles houvessem pisado em um sensor ativando o temporal gélido. Com a baixa visibilidade, e sem o auxílio do guia, eles não tinham opção alguma se não manterem-se presos um ao outro pela corda de poliamida. Algumas horas seguindo o que achavam ser a porção austral da descida, por sorte não eram surpreendidos por profundos crevasses, mas seracs pareciam se esgueirar pelas laterais, formando uma trilha quase transcendente. Quando se depararam com uma formação impossível de escalar, restou a eles a única opção de contorná-la, e com o primeiro movimento fora do esperado consultaram os GPSs. Para o completo desespero, a agulha que supostamente deveria estar magnetizada aos polos da Terra, se movia em todas as coordenadas possíveis, hora indicando um passo deles para o Norte, o seguinte para o Oeste, outro para o Sul, e cada um dado na mesma direção que o anterior.

Pressionando as palmas contra as pálpebras cerradas, Neslihan virou-se para Aaron, repousando a testa sobre o ombro masculino. Tomando profundas respirações, pânico parecia querer tomar conta de seus pulmões, apenas o peso da mão dele contra o próprio braço fazia com que parte do senso retornasse aos nervos. Lembrava-se então do telefone com sinal de satélite, e com esperança, retirava o aparelho do bolso, somente para perceber que ele também parecia estar com mal funcionamento. Eles estavam perdidos. Completamente perdidos. Recostando contra a formação de gelo, as têmporas latejavam. Eles tinham apenas uma garrafa de água entre eles e dois pacotes de frutas desidratadas até conseguirem a saída daquele inferno gélido.

Com o olhar voltado para o horizonte que parecia infinito, um cintilar fisgou a atenção das íris marejadas. Um brilho tão sútil em meio à tormenta alva da nevasca, que precisou de um tempo isolando as palavras de Aaron, para que o prateado fosco se registrasse na retina. Exclamando, desprendendo-se dele com a abertura do mosquetão, disparou em direção ao lampejo, sem dar-se conta do ranger do gelo que seguia em seu encalço. Sabia que o homem a acompanhava, ele iria até nos confins do Universo com ela, e faria o mesmo por ele. A corrida até o que parecia poucos metros de distância mais se aproximava de uma hora, os olhos castanhos fixos ao ponto enquanto batalhava com a fadiga na respiração, o peso da mochila, e o vento que machucava a ponta do nariz, bochechas e lábios descobertos. Aquela adrenalina de um risco dando resultado era a que a energizava.

Um último pulo sobre um crevasse pequeno os colocava de cara com o que somente poderia ser a fuselagem do avião perdido. Os joelhos se afundavam na vastidão branca ao mesmo tempo em que eles arrancavam o primeiro par de luvas, cavando nos arredores da protuberância metálica exposta. O segundo par de luvas logo se tornava encharcado e Neslihan então percebia o possível motivo pela visibilidade repentina do metal retorcido. Degelo. Um riso amargo escapava a garganta ressecada. Aquecimento global, justo o que tanto a preocupava e uma de suas maiores causas, naquele momento era o maior aliado que eles poderiam pedir. Compreendia então a razão por aquele acidente parecer tão quimérico, sem visuais, sem vestígios. Somente diante do aumento das temperaturas, o derretimento do gelo e neve que se formara ao longo de quase cem anos, era possível. Balançando a cabeça em incredulidade, permaneciam tateando toda a superfície esbranquiçada, encontrando ouro, prata, bronze, madeira, louças, cerâmicas. E então, como se um ímã os atraísse, alcançaram ao mesmo tempo uma caixa não muito maior que a palma feminina.

O porta joia parecia feito de genuíno casco de tartaruga, o material pulsando entre as mãos deles, que o seguravam firmemente, receosos de que fosse uma miragem delirante de ambos. Firmando a ponta de um dos dedos da luva entre os dentes, Neslihan puxou-a delicadamente, descobrindo os dígitos, que imediatamente protestaram a temperatura negativa. Tremulando, apalpou o calor que parecia emanar, até encontrar um pequeno botão, que fez a tampa se abrir lentamente, o mecanismo certamente enrijecido pelo tempo e frio. Aninhado no veludo tão escuro como a noite, o broche descansava. Assim que tocaram o marfim que formava a delicada rosa, o mundo cessava. Os flocos de neve suspensos por meros segundos, as orbes deles presas umas às outras, castanhas às azuis. Um peso antigo que a eles não pertencia se espalhava pelo corpo de cada um, os paralisando por milésimos, antes de todas as sensações retornarem em um ímpeto, os sufocando momentaneamente. Haviam encontrado a relíquia. Imediatamente a mulher dispensava a experiência que beirava o sobrenatural como puro alívio percorrendo o sangue.

O que poderia ser descrito como euforia tomava as reações de Neslihan, que se atirava ao abraço de Aaron no mesmo instante. O sorriso era contagiante, e eles comemoravam, não importava que logo precisariam enfrentar o processo todo novamente, agora com a adição dos compassos digitais e telefones defeituosos. Os lábios entreabriam para comemorar, quando tudo ruiu. 

O estalo foi a única coisa que deu tempo de ouvir antes de tudo se partir. O gelo cedia rápido demais, e num instinto, Aaron se colocava na frente de Nes. O chão sumiu sob seus pés e ele sentiu a queda. O impacto foi violento. Um som seco, um choque cortante no corpo inteiro. Algo cortou seu rosto, a dor latejante na perna indicava que algo estava quebrado. E a cabeça... Ele piscou, tonto, tentando se manter acordado. O frio mordia sua pele, a névoa ao redor parecia engolir tudo.

Com o grito que escapava dela ainda ecoando, o baque era amortecido pelo corpo de Aaron. Por longos instantes, tudo parecia girar. A destra descoberta ardendo como se a tivesse colocado no fogo, o ombro esquerdo pulsando como se o coração dentro do peito tivesse se deslocado para o local. E então algo úmido e pegajoso alcançava a palma ainda queimando. 

A única coisa que importava era ela. ❝ Nessie... ❞ Ele tentou falar, a voz rouca, quase inaudível.

O som falho, rasgado e doído, era acompanhado da percepção de que o líquido que se esgueirava pelos dígitos femininos era o carmesim espesso do sangue de Aaron. ❝ Ace! ❞ Sacudindo a neblina que se formava entre os ouvidos, Neslihan era acometida por apatia incomum. O talho na tez masculina desprovida de cor era gráfico, bem como a projeção inatural do fêmur e tíbia esquerdos. Algo também não estava certo com a respiração masculina, e a maneira como a pele dele espasmava, adotando uma tonalidade azul, infundia a mulher com a mais pura e corrosiva culpa. Se não tivesse seguido adiante, se tivesse insistido em não fazerem parte daquele show de fantoches que Zafira armara, se não tivesse se atirado na direção de algo claramente perigoso, apenas para sentir a adrenalina da vitória, se tivesse se atentado que o mesmo fenômeno que os permitia visibilidade poderia condená-los, se, se, se. Era tarde demais para pensar neles.

Missing Object : O Broche De Kimberly By : @aaronblackwell & @neslihvns 📍 Monte Cielo - Polizzi Generosa

Ela estava ali, viva. E, por um instante, isso foi suficiente para ele suportar a dor. Aaron nunca teve problema em se jogar em situações de risco. Mas agora, tudo o que ele queria era sair dali. Com ela. Porque, maldição ou não, Nes era uma das únicas coisas naquele mundo que ele não podia perder.

Um soluço quase gutural deixava os lábios, os dentes batendo um contra o outro, e somente então percebia que água gélida escorria pelas paredes ocas do glaciar que os engolira e fazia um atalho até as roupas deles. Aaron parecia ter perdido a luta com a lucidez, o corpo retesado agora sem reação alguma que não a respiração laboriosa. Deslizando pelo gelo como navalha, não mais frágil, sob eles, sentiu o tecido cobrindo os joelhos tensionar e ceder. Com a mão direita escoriada profundamente, tateou pela superfície glacial, desnorteada. Se parasse um segundo sequer, sabia que pânico tomaria o controle e não cederia seu lugar à razão. ❝ Pense, Neslihan. Pense pelo menos uma vez na sua vida! ❞ Vociferando para si mesma, podia sentir a visão turvando com a ansiedade aguda, mas cravando as unhas irregulares, umas quebradas, outras ainda intactas, no joelho exposto, mantinha-se ancorada à realidade.

O peso da mochila pressionava contra o ombro que perdia a sensibilidade, e a espalhava para o restante do braço. A constrição a fazia recordar do kit de primeiros socorros. Quase estourando o zíper na pressa de encontrar algo que pudesse ocupar a mão ainda funcional para que o raciocínio pudesse ser liberado, nem mesmo dava-se conta de que não havia nada no conjunto de suprimentos que poderia ajudar na situação de Aaron, não quando tinha a certeza de fraturas, o corte comprido e espesso demais para qualquer uma das ataduras e um possível traumatismo craniano. A destra lacerada gritava contra a aspereza de tudo que entrava em contato, quando encostou no plástico frio do GPS e celular. Fechando o punho ao redor deles, preparava-se para atirá-los contra a parede de gelo, quando viu a leitura do sinal. Impossível.

❝ Impossível! ❞ A palavra reverberava. Como ela poderia acreditar ser possível, quando há algumas horas, o mesmo aparelho parecera inútil. Poderia ser uma alucinação, ainda que não recordasse de dor alguma na cabeça? Depositando-os sobre o nylon da bolsa, levou os dígitos manchados de vermelho até a raiz dos fios, tateando o local por algum ponto sensível, sem sucesso. Retornando o olhar para Aaron, sentiu algumas lágrimas transbordarem, trilhando um caminho pelas bochechas feridas pelo frio. Com movimentos titubeantes, em descrença e desesperança, teclou 118 nos botões rígidos. Com o primeiro toque, toda a vivacidade ainda presente em seu corpo parecia se esvair em alívio. A voz mecânica não demorou mais do que cinco segundos para responder, mas que mais se assemelhavam a cinco horas. ❝ Aiuto! Ho bisogno di aiuto. Per favore. Siamo caduti e il mio migliore amico è gravemente ferito. Si è rotto una gamba... I-I-penso che abbia un trauma cranico e penso che abbia anche l'ipotermia. Anch'io sono ferita, ma ho solo bisogno che tu lo salvi. Siamo da qualche parte tra Monte Cielo e Monte Vespero. Penso… penso di poterti dare le nostre coordinate esatte, ho un GPS con me. Per favore, sbrigati e salvalo. ❞ ¹ O pedido saía quase em único fôlego, as gotas salobras caindo livremente das pálpebras. Equilibrando o telefone entre a orelha e o ombro saudável, alcançou o Garmin, e ditou exatamente o que prometera.

Assim que as coordenadas deixavam os lábios, e a linha desconectava com a promessa de que tudo ficaria bem, Neslihan retirava sua jaqueta, a colocando sobre Aaron, forçando-se mais próxima dele, na tentativa de passar o próprio calor, ainda que já pudesse ver as próprias unhas tornando-se arroxeadas ao transferir suas luvas para as mãos dele, e temesse machucá-lo ainda mais. ❝ Ace, por favor, não me deixe sozinha. Eu prometo ser uma pessoa melhor, me redimir por ter te causado isso. ❞ As lágrimas passavam a ser copiosas, comprometendo sua visão, fluindo pelo material impermeável e térmico que o cobria. Passeando os dedos pelos fios alheios, repousou a testa sobre a dele. ❝ Por favor, não me deixe sozinha. ❞ A súplica era repetida por centenas de vezes, até apenas um sussurro restar ao ouvir a rotação de hélices em meio à cacofonia dos próprios pensamentos. Com o último resquício de força em si, agarrou o porta joia e o guardou em um dos bolsos da própria calça. A Gökçe vibrava em ódio. Se ela perdesse Aaron por conta daquele maldito broche, daquela cidade infeliz, por conta daquela história de maldição infernal, ela garantiria um destino muito pior do que um século de desamor a todos.

@khdpontos


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4 months ago
Com A água Gelada Envolvendo-a Até Os últimos Fios De Cabelo E Um Frio Implacável Trilhando Um Caminho

com a água gelada envolvendo-a até os últimos fios de cabelo e um frio implacável trilhando um caminho até o âmago , neslihan encontrava na resistência que suas unhas encontravam na pele do braço e antebraço — até que sulcos avermelhados surgissem sobre o bronze — a única válvula de escape para os pensamentos que rondavam sua mente . nem mesmo o vestígio do toque cálido da pedra , que parecia murmurar seu nome , era capaz de dissipar o gelo que se alastrava por suas veias , enraizando pavor . de soslaio , avistou a figura de christopher , e as palavras trocadas ecoaram frescas em sua memória , trazendo um arrepio que a consumiu por completo . não , aquilo não podia ser real . a situação era fruto de um devaneio , invenções de uma mente febril . uma peça cruelmente pregada por sua imaginação , que colocava em perspectiva a acalorada discussão da noite anterior . sim , era apenas isso – cenas forjadas em uma fantasia vívida demais , das quais despertaria a qualquer momento , com as têmporas pulsando em protesto contra o excesso de negronis ingeridos .

mas ela se lembrava com nitidez do dia anterior , as longas horas dedicadas a processos e rotina meticulosa , o encontro com olivia no meio do dia antes de retornar ao escritório , cansaço pulsando em suas íris ao final do expediente , exaurida pelas violações . a imagem dos olhares aterrorizados dos que buscavam sua ajuda a acompanhando em cada passo do edifício até o carro . a cidade inquietantemente silenciosa , sem casais caminhando pelas ruas adornadas pelo aroma de flores desabrochando e pelo sussurrar das folhas , como havia se tornado habitual desde que os rumores começaram a se espalhar . então , como uma fissura na frágil racionalidade que ela tentava sustentar com unhas e dentes , a pergunta de domenico , tão típica do velho amigo , estilhaçava qualquer resquício de controle que ainda tentava manter .

impossível . a palavra reverberava , enclausurada em um labirinto sem saída dentro de si , um eco desesperado em busca de uma fresta inexistente . por um breve instante , desejou abandonar a própria pele , tomar outro corpo , e contemplar-se sob o olhar de um espectador . seriam suas feições traidoras implacáveis , expondo o pânico que se entrelaçava como espinhos em seus pulmões ? ou , como esperava ardentemente , permaneceriam impecáveis , esculpidas como linhas de mármore inquebráveis ?

neslihan , para seu desgosto , novamente se via incapaz de racionalizar e atrelar sentido ao que testemunhava . com as íris impregnadas de uma perplexidade quase babélica , recusava-se a aceitar a possibilidade de que tudo o que havia conquistado — sua independência , sua vida forjada às próprias custas — pudesse se dissipar com um mero estalar de dedos . a ideia de uma maldição era risível , e ainda mais absurda era a exigência de que , para escapar de uma condenação futura , precisasse se render àquilo que mais desprezava .

amor . como poderia sequer cogitar oferecer algo dessa natureza , quando tudo o que conhecera sob a máscara do sentimento fora destruição ? como poderia atrever-se a depositar sua sobrevivência no altar de uma emoção que se tornara sinônimo de devastação ? o que o amor havia lhe oferecido , senão dor ? e como , em plena consciência , poderia ela submeter seus amigos , sua família escolhida , uma desconhecida , ou até mesmo aquele que a ferira e aquele que incinerava sua paciência com provocações constantes , à mesma desolação ? impossível . a palavra irrompeu , visceral , rasgando o tecido de sua consciência e ressoando com a força de uma convicção inabalável .

com um aperto fugaz na palma de graziella , um sorriso vazio dirigido a aaron e um aceno sutil em direção a olivia , seguiu a figura de camilo . como um espectro , vagava sob o manto da escuridão , seus dentes batendo uns contra os outros , até selar a porta do alfa romeo com uma força inesperada , fazendo os ossos de seu corpo vibrarem . pressionando o cenho contra o volante , lutava para conter um grito que se formava em sua garganta , rompendo sua respiração ofegante e irregular . com as palmas suadas e geladas , tremendo como os batimentos descompassados de seu coração , levou-as até os olhos , que dançavam em vertigem , exacerbando a náusea que se apertava em seu estômago .

Com A água Gelada Envolvendo-a Até Os últimos Fios De Cabelo E Um Frio Implacável Trilhando Um Caminho

o índigo do céu noturno , o prata das estrelas , o vermelho das rosas , o cinza dos ladrilhos que cobriam as calçadas , o dourado das luzes que salpicavam as ruas agora pulsando com vida . o linho encharcado da calça de alfaiataria , o metal frio dos botões da camisa , o vinil e a espiga macios do banco , a pele aquecida e... ferida de seu antebraço . ao perceber os vergões profundos que interrompiam a continuidade do caramelo de sua tez , o exercício que habitualmente a ancorava contra o pânico foi completamente esquecido .

por sorte , o carro não necessitava de chave para dar partida , ou os dedos dormentes a teriam mantido ali , à mercê de sua própria inquietação , até o amanhecer . em um trajeto que normalmente tomaria quinze minutos , conseguiu encurtá-lo para oito , quase levando os portões de ferro da villa gökçe consigo na ânsia frenética de se libertar da agonia que a consumia .

contornando a imponente estrutura de terracota , seus ouvidos captavam mark , chaz e virginia por trás dos vidros . em um movimento automático , abriu as portas duplas , permitindo que a envolvessem em uma euforia coletiva . desde o momento em que saíra da clareira , era a primeira respiração completa que tomava , mas logo o ritmo irregular de seus pulmões retornou , uma torrente de pensamentos a invadindo com uma força corrosiva . como um tornado irrompendo no estábulo que abrigava seus cavalos , os olhos se fixaram no preto azulado de gül . o hanoveriano , seu companheiro fiel há mais de uma década e meia , observava-a com a postura elegante e composta que lhe era característica , uma constante em meio às tempestades que a cercavam .

Com A água Gelada Envolvendo-a Até Os últimos Fios De Cabelo E Um Frio Implacável Trilhando Um Caminho

a vista era turva pelos fios que se atinham à pele ainda levemente úmida , como resultado da corrida frenética até ali . arrancando a camisa social , a calça sob medida e os saltos arruinados , movia-se com frenesi , aproximando-se do animal apenas com a fina camisole e os micro shorts de renda que lhe eram habituais . a comunicação com o cavalo era puramente instintiva , ambos entendendo-se sem palavras , por meio do corpo e olhares . a baia se abria com um gesto sútil , e sem a sela adornada com suas iniciais ou as rédeas restritivas , num ímpeto , estava sobre as costas de gül , guiando-o com o apertar das panturrilhas .

o vento frio açoitando seus membros expostos , e o calor e a respiração do animal movendo-se em uníssono com os seus , neslihan aguardava , em vão , o momento em que se sentiria livre . mas nem mesmo ao se abraçar ao pescoço de gül , deixando-o correr até o limite de sua capacidade , o mundo nada além de um borrão , as palavras daquela maldita cripta , com sua carga aterradora , deixavam de ressoar incessantes em seus ouvidos . maldição . uma ideia tão irracional que sua mente cética não conseguia deixar de se distanciar , em escárnio , da possibilidade . mas como explicar o que ouvira e sentira ? como poderia duvidar do que todos haviam vivenciado ? reencarnação . era a única concepção que ela , de alguma forma , assimilava e acreditava , mas de alguém que ali vivera há um século ? como se presa no pequeno mundo de khadel , aguardando que um ciclo cármico finalmente se completasse ?

almas gêmeas . jamais poderia condenar alguém a passar o resto de seus dias em companhia de sua presença amarga e torturada . jamais . amor . neslihan não possuía isso para dar . amor . não sabia sequer o que era . amor . grotesco . insano . amor. feridas de submissão . amor . ❝ fermare¹ ! ❞ vociferou para as vozes que a atormentavam . e gül , com infinita inteligência , atendeu ao comando , parando abruptamente , enquanto o corpo da mulher seguiu sua trajetória . arremessada contra o chão , a dor lancinante na coluna roubou-lhe o ar , o suficiente para resetar o ritmo habitual . a tontura , que antes se originava do pânico , agora girava o céu , enquanto ela permanecia em sua eterna insignificância perante a vastidão do universo .

algo úmido tocou suas bochechas , e por breves segundos , uma ilusão se formou , de uma tempestade iminente , ainda que fosse especialmente improvável no inverno seco do oeste italiano . o que resvalava a delicada pele , em meio à visão atordoada , eram lágrimas . lágrimas que , sequer no funeral de sua mãe , fora capaz de derramar , mas que agora a inundavam por completo . naquele momento , odiou-se um pouco mais . com cada fibra de seu corpo imersa em agonia , odiou-se por se permitir reação como aquela diante de um dilema como o que a confrontava , enquanto tivesse sido incapaz de demonstrar sequer uma fração daquela vulnerabilidade em momentos de dor muito mais profunda . odiou-se por trair a promessa feita doze anos antes , a última vez que deixou que kadir şahverdi a destruísse . a promessa feita com as palmas envoltas nas de münevven , as tristes , mas resilientes íris maternas , agora distantes , imortalizadas em suas lembranças .

❝ você nunca me ensinou o que é amor e como amar , anne²... por quê ? ❞ dirigia o questionamento angustiante à figura que surgia , composta de memórias e dos vultos das estrelas . ❝ porque ele não te permitiu , ou porque nunca me amou ? ❞ a voz se partia entre o choro e o esforço , falhando sem conseguir submeter o pensamento nocivo . ❝ é isso , não é ? mas por quê ? porque eu era a lembrança do que ele fez com você ? da sua infelicidade ? da sua prisão ? ❞ a única resposta eram os latidos de chaz e virginia , finalmente alcançando-a , os greyhounds felizes pelo exercício físico . erguendo-se e debruçando sob as palmas , observou-os enquanto a sensação retornava às suas extremidades , a temperatura quase gélida fazendo cada pequeno corte latejar em uníssono com os músculos exaustos .

Com A água Gelada Envolvendo-a Até Os últimos Fios De Cabelo E Um Frio Implacável Trilhando Um Caminho

❝ não importa . nunca me permitirei ser amada , nem amar . só estaria condenando mais uma pessoa a um fim miserável . como fiz com você . ❞ a última frase saía como um sussurro , com a força de um golpe , ferindo-a mais do que o deslize com gül .

afugentando as gotas salobras que ainda escorriam por detrás das pálpebras com mais violência do que o necessário , solevou-se sob as pernas trêmulas , ainda inseguras ante o próprio peso . tentou recompor-se com profundas respirações , as costelas protestando diante da expansão exagerada de seu peito . o olhar percorreu o pasto , encontrando o cavalo a poucos passos , fitando-a com rigidez , as narinas dilatadas em agitação . ❝ ei , ragazzone , vem cá . não foi sua culpa . ❞ com os dedos entrelaçados na crina áspera , mas perfeitamente escovada por suas próprias mãos , apoiou-se contra o corpo imponente e esguio do animal . o relincho suave a alcançou como uma forma de negação , e com um sorriso dolorido , uniu sua testa à dele . ❝ jamais , gül . jamais . ❞ o suspiro era tão pesado quanto o fardo que carregava nos ombros .

comandando o animal a abaixar o suficiente para que pudesse montar sem impulso , afagou-o suavemente , permanecendo agarrada aos fios meia-noite que formavam uma cortina flutuante à medida que ele trotava em cautela . com os únicos seres que poderiam acompanhá-la em seu caminho ainda a seguir , neslihan permitiu que as orbes vagueassem até perderem o foco , prometendo a si mesma um futuro tão vazio quanto o presente , comprometida a ajudar os que ainda ansiavam por um "felizes para sempre" , somente não o seu .

@khdpontos


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