Dive Deep into Creativity: Discover, Share, Inspire
a menção aos montantes mensais que graziella insistia em destinar a causas sociais enchia neslihan de um orgulho sereno . sabia que o gesto provinha da genuína bondade que residia na essência da outra , e não como um subterfúgio fiscal para a vasta fortuna que detinha . era essa sinceridade que a diferenciava , embora qualquer um que apenas conhecesse a fachada meticulosamente calculada que a giordano apresentava ao mundo pudesse supor o contrário . agraciada com a verdadeira face daquela amizade , no entanto , sentia-se imensamente grata ao universo por ter tal presença em sua vida . ❝ tenho algumas opções , mas pensei que , dessa vez , você pudesse escolher . ❞ arqueou as sobrancelhas levemente , em sugestão . queria que a outra tivesse uma voz mais presente naquelas decisões . ❝ temos opções de lares sociais para mulheres , e famílias , em situações vulneráveis , lares para crianças em tratamento oncológico , organizações de proteção infanto-juvenil e incentivo à educação , construção de creches e berçários , além de clínicas de reabilitação infantil... posso te encaminhar a lista completa depois , você pode escolher um , ou todos . mas me ajude a decidir , grazi ? ❞ a expressão era gentil , carregada de esperança e intencional . o tema melancólico , logo deu lugar a um tom de leve exasperação, provocado pelos burburinhos que preencheram sua manhã . ❝ a única parte boa do meu dia até agora foi acordar com chaz e mark aconchegados na minha cama . ah , e te ver , claro ! ❞ com uma piscadela exagerada acrescentou , acompanhada de uma breve risada . era curioso como parecia ver a amiga com mais frequência do que o próprio reflexo no espelho . ❝ tenho um novo caso que saberei mais detalhes à tarde . mas , para ser honesta , tenho um mau pressentimento , que não adianta me debruçar sobre agora , ou só me deixará mais ansiosa . ❞ meneou a cabeça levemente , afastando os pensamentos inquietantes ao perceber a proximidade do restaurante . ❝ e você ? por favor , me diga que sua manhã foi mais emocionante do que a minha com os meus cachorros ! ❞ subindo os pequenos degraus da entrada , em um movimento ágil , empurrou a pesada porta ornamentada d'il giardino , oferecendo um sorriso cortês ao maître d' . com o mencionar dos sobrenomes de ambas , uma mesa externa as esperava . ❝ como está o meu martinez-giordano preferido ? ❞ a expressão era radiante ao referir-se a romeo , a simples menção do nome fazia o ambiente se enriquecer com o afeto que nutria pela figura tão diminuta .
Graziella sabia que o modo como a mulher expressou a real intenção da italiana não foi de modo julgador, ainda mais porque sabia que uma das grandes motivações da Giordano era sempre se manter em cima. "É uma habilidade para poucos, estou ciente disso. Mas é uma que eu fico feliz em compartilhar consigo." Deu de ombros brevemente, mantendo o sorriso. Além faturar bastante dinheiro, Graziella gostava igualmente de gastá-lo e quando se tratava da melhor amiga, só havia um destino para o depósito. "Estou aguardando qual instituição deseja que seja feito o depósito desse mês." Anunciou enquanto direcionavam-se até o restaurante aonde iriam almoçar. Essa atitude da empresária era de conhecimento exclusivo de Nes, não apenas porque gostaria de manter segredo, mas porque, devido ao seu jeito e sua personalidade, ninguém sequer poderia imaginar que uma mulher que parecia tão arrogante quanto Graziella poderia ter um gesto grandioso. E ela preferia que continuasse dessa forma. "Como foi o dia até agora? E sem falar sobre esses burburinhos apaixonados porque não aguento mais. Parece que a cidade é só isso agora."
fios desalinhados , o blazer e a calça em evidente dissonância , brincos com pares trocados — o conjunto desordenado era um reflexo eloquente do estado mental de neslihan após a noite anterior e discussão com christopher . os dedos trêmulos e os olhos inquietos revelavam um turbilhão interno , uma miríade de sentimentos negativos que ameaçavam consumi-la . de alguma maneira teria de encontrar uma forma de exorcizá-los . sua presença no último dos três andares da casa comune era uma tentativa deliberada de aplacar as turbulências , e dedicar-se à produção teatral das crianças do orfanato , tarefa que assumira com zelo ao criar figurinos e cenários , trazia uma centelha de calor que gradualmente dissipava o frio que a envolvia .
imersa em pensamentos e no som dos risos infantis que respondiam aos próprios , percorria o espaço sem perceber os olhares furtivos e os sussurros que a seguiam , até que a voz suave se fez ouvir ao seu lado . a figura de pasqualina provocou uma tensão breve e quase imperceptível em seus ombros , antes que assentisse e seguisse a mais nova até o ambiente ventilado , embora um tanto estreito para acomodar ambas . a notícia sobre o estado da peça trouxe um suspiro carregado de autodepreciação . era esperado daquele dia , que , desatenta tivesse escolhido justamente o artigo com defeito , sem sequer verificar por imperfeições , como era de costume . ❝ levando em consideração o estado da minha cabeça hoje , não ficaria surpresa que outra peça também esteja se desfazendo . ❞ murmurando , exasperada envolveu parte do cabelo com uma das palmas , enquanto tentava oferecer um sorriso brando , embora sem grande convicção .
❝ consegue me ajudar a procurar por mais costuras soltas... lina ? ❞ arriscou utilizar o apelido que ouvira outros mencionarem , numa tentativa de estender um ramo de cordialidade , queria afastar a tensão que parecia reger cada interação entre elas . não sabia explicar o aperto que sentia sempre que os traços quase etéreos de pasqualina surgiam diante de si — ou melhor, sabia, mas recusava-se a tratá-la com a mesma insanidade quando vira a forma como os capel-d’angelo tratavam as opiniões dela . ❝ pensar que provavelmente desfilei por toda a cidade assim desde que saí de casa , e ninguém teve uma centelha de decência de me avisar ! ❞ a noção provocava uma pequena , e incrédula , risada . ❝ esses cucciolottos devem ter se divertido às minhas custas . ❞ entremeou as íris em bom humor . ❝ bem que os achei mais cheios de risos hoje do que o de costume . ❞ o tom carinhoso ao se referir às crianças era evidente , tangendo a afeição que não fazia questão de esconder .
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Os movimentos com a cabeça e os olhares apontando para a calça não foram suficientes. Pasqualina tentava avisar Neslihan de que uma pequena descostura na calça de alfaiataria aumentava a cada passo que ela dava. A peça parecia de marca e muito bem-feita, combinava com o estilo social e altivo da mulher. Lina continuava tentando apontar, discretamente, mas não conseguia atingir seu objetivo.
O murmurinho de algumas pessoas ao redor foi o suficiente para lhe dar incentivar a se aproximar de Neslihan. A postura firme e a voz imponente eram muito bem admiradas à distância, interagir com a mulher não era algo comum para Lina, o que a deixava um pouco fora de sua zona de conforto. Personalidades e intuição à parte, ela sabia que precisava logo dar um trato naquela descostura. Se não o fizesse, logo a advogada estaria expondo partes que deveriam estar bem cobertas.
"Buonasera, com licença, poderia me acompanhar aqui rapidinho?" Cumprimentou a mulher, aproximando-se rapidamente e guiando-a pelo caminho à esquerda. "Where are you taking me?" Pasqualina respondeu enquanto abria bolsa para procurar seu "kit de costura para emergências. "Ao banheiro. A sua calça está com uma pequena descostura, deve ter sido algo pontiagudo que causou isso." Falava no seu tom amistoso, com o sorriso costumeiro nos lábios, mas com menos contato visual do que de costume. "Ia ser meio estranho costurar lá no meio de todo mundo. Hmm, deixa eu ver se tenho uma linha mais próxima dessa cor...Se não, vou dar um jeitinho de improvisar."
a diversão que iluminava o rosto de olivia despertava uma resposta inevitável e semelhante em neslihan. as lembranças que fervilhavam entre elas pareciam quase instintivas , um desfile de memórias afetivas que reavivavam a familiaridade construída entre infância e adolescência. a gökçe sequer se atreveu a retrucar sobre a pontualidade , a ideia de fazer os outros esperarem por si a fazia estremecer. um sorriso , amplo e sincero , desenhado até as extremidades do rosto , e um riso, carregado de puro deleite , transbordaram antes que ela desse de ombros com leveza. ❝ eu ? elaborar planos mirabolantes ? jamais ! apenas arquitetando futuros improváveis que sei que sou plenamente capaz de poder transformar em realidade ! ❞ exclamou com teatralidade , enquanto estalava a língua em uma falsa reprimenda , as íris cintilando com uma energia que mal conseguia conter. ❝ quem disse que meu verdadeiro objetivo não é apenas aproveitar da sua legião de adoradores e transformá-los nos meus novos voluntários ? ❞ com um gesto casual , retirou o blazer e o sobretudo , entregando-os a carina junto da bolsa , antes de enlaçar o braço ao da mais nova com naturalidade. o sorriso , se é que era possível , tornou-se ainda mais radiante enquanto se aproximava. ❝ como se alguém fosse acreditar. ❞ uma risada curta escapou , piscando com uma expressão de inocência calculada. ❝ é claro que é mais uma adoção fortemente encorajada por mim. mas me diga , não foi a melhor decisão que tomou recentemente ? ou estou errada em estar completamente certa ? ❞ mordiscando levemente o lábio inferior , como se tentasse conter a euforia crescente , indicou com um gesto as portas que separavam os animais e a clínica dos escritórios e da recepção.
Sentada à mesa, pernas cruzadas com a elegância ensaiada que parecia inata, mas que era, na verdade, fruto de anos de treinamento e expectativa alheia. Os óculos escuros protegiam mais do que apenas seus olhos da claridade do dia; eram um escudo contra a inquietação que ameaçava transparecer. Neslihan estava atrasada, o que era totalmente incomum para a tão organizada advogada, e Olivia quase chegou a se preocupar. Quando seu olhar finalmente captou a figura familiar, ergueu uma sobrancelha, um meio sorriso brincando em seus lábios. A mulher estava visivelmente apressada, quase atrapalhada em seus saltos altos que nunca foram feitos para a correria. Parecia tão diferente da garota que Olivia conheceu na infância, mas ao mesmo tempo exatamente igual. Havia algo reconfortante em ver como algumas coisas nunca mudavam, o pensamento arrancou um sorriso nostálgico da musa. Quando a outra entrou, falando rápido e gesticulando como se estivesse tentando justificar um crime terrível, Olivia inclinou a cabeça levemente, tirando os óculos com uma precisão calculada. “ Relaxa, Nes. Eu já te fiz esperar muito mais em outros momentos. ” Não resistiu a uma risadinha divertida com o pensamento. Enquanto uma era extremamente pontual e responsável com seus compromissos, a outra adorava a atenção recebida por chegar depois de todos. Não importava o tempo ou a distância, havia algo na dinâmica entre as duas que nunca desaparecia, como se os anos de separação ou afastamento não pudessem apagar completamente os laços que compartilharam. “ Então, qual é o plano mirabolante que você armou desta vez? ” perguntou, ajeitando o cabelo enquanto olhava para Neslihan com um misto de desconfiança brincalhona e genuína curiosidade. “ E por favor, me diga que não envolve adoção, de novo, de alguma criaturinha que você resgatou. ”
o sorriso que surgiu enquanto acompanhava as reações de aaron às suas palavras irradiava autenticidade. assim como havia sentido em sua conversa com graziella , o alívio quase tangível de ter sua opinião validada por ele era inegável. em toda a sua capacidade mental , não conseguia compreender a resposta desproporcional e instintiva que as superstições acerca da maldição lhe provocavam. naturalmente , como qualquer mente racional , a ideia de acreditar em magia era absurda. o que escapava era a razão pela qual aquele mito específico a atingia de maneira tão visceral. inspirando internamente , um riso suave escapou de seus lábios ao ouvir a descrição carregada de acidez do blackwell. doenças mentais certamente não deveriam ser banalizadas , mas a absurda natureza da situação exigia uma pitada de humor distorcido. ❝ e a união será oficializada por um psiquiatra que também é padre aos finais de semana. ❞ os olhos reviraram em uma mescla de exasperação e ironia , antes de concordar com veemência. ❝ é claramente uma manchete sensacionalista. não me chocaria se fosse alguma família tentando encobrir algum escândalo , como tantas vezes já fizeram. ❞ replicando a respiração masculina , ponderou. ❝ ou então , alguém com algum tipo de questão em relação à vivianne. não que eu os culpe , a essa altura. quem quer que seja , provavelmente decidiu unir o útil ao agradável ao colocar os holofotes sobre ela. ❞ com um olhar breve para a xícara quase vazia à sua frente , solicitou outra , agora acompanhada de alguns biscottis , aceitando mentalmente que o treino de tênis teria que compensar os carboidratos excedentes. ❝ estão dizendo que ela é a catalisadora de tudo. ❞ meneando a cabeça em uma mescla de decepção e resignação , beliscou um pedaço da massa com amêndoas , suprimindo um suspiro de prazer ao sabor delicado. ❝ mas esses rumores à parte . ❞ mudou o tom , fixando o olhar no amigo com curiosidade. ❝ como foi o turno de ontem ? alguma novidade no the loft ? ❞ neslihan dificilmente se colocava como o epicentro de boatos , mas a perspectiva de aaron sempre trazia um frescor ao cenário que ela cuidadosamente observava à distância.
Aaron não sabia dizer muito bem como aquela amizade começou, mas, em algum momento, Nes havia se tornado uma constante tão sólida em sua vida que parecia impossível imaginar o mundo sem ela. Era como se ela sempre tivesse estado lá, assim como todas as tradições que eles passaram a adotar após mais de uma década de amizade. A amiga era uma constante, atravessando as diferentes fases ao lado dele com tranquilidade e, ao mesmo tempo, firmeza. Ela tinha a incrível habilidade de nunca levar seu mau humor a sério demais, como se fosse imune. E, embora ele nem sempre admitisse, havia algo reconfortante nessa dinâmica. "Honestamente?", perguntou, erguendo uma sobrancelha. "Eu não acredito nem um pouco". Aaron se debruçou sobre a mesa, totalmente capturado pela história. Mas ao invés de esperança, só vinha a descrença. "Porque, claro, todo dia a gente vê por aí dois pacientes apaixonados. Isso faz total sentido... Deve ser amor à primeira internação. Maldição quebrada, huh? Aposto que o próximo passo é eles se casarem no refeitório do hospital, logo depois da terapia de grupo." Ele soltou um suspiro cansado, balançando a cabeça. "Isso é só mais uma das mentiras que de vez em quando correm por aqui, aposto o que cê quiser".
entre o apelido abominado e a malícia estampada na expressão alheia , neslihan sentiu as íris faiscarem em desafio , um sorriso calculado o suficiente curvando os lábios. o epíteto era uma das formas mais certeiras de provocação – e camilo sabia disso. desde o instante em que ela cometera o deslize de demonstrar seu desgosto pela abreviação , ele parecia se deliciar em usá-lo com prazer sádico. era claro que ele queria irritá-la , até onde , ainda não havia decidido , e havia uma ínfima parte de si que ansiava por descobrir o limite entre ambos. nada que meros segundos na presença do mais velho não desfizesse , transformando qualquer semblante de curiosidade em uma nuvem de irritação. ❝ ah , carissimo , você ainda não sabe do que eu sou capaz ? ❞ o tom de sua voz era uma provocação tão evidente quanto as palavras escolhidas por ele momentos antes. era quase irresistível desafiá-lo , como se confrontar o ego do ricci fosse tão instintivo quanto respirar.
as orbes estreitaram ao acompanhar o percurso do olhar dele, sentindo-se exposta , estudada , como se pudesse ser decifrada com uma mera observação. impossível , homens como ele tinham um limiar de atenção tão diminuto quanto suas intenções eram previsíveis – a busca por troféus para massagearem o próprio ego. ainda assim , a marca que os castanhos deixavam em sua pele era inegável. sustentando a atenção masculina com uma mistura de desdém e diversão , ao contrário do que ele pudesse imaginar , com a destreza de uma amazona treinada desde a infância , ela já havia assumido as rédeas da situação. aproximou-se um passo , o suficiente para que o perfume feminino e a colônia masculina se mesclassem entre eles , a voz baixa em um tom quase confidencial. ❝ você parece confundir a minha atenção com um prêmio , mas não se engane — ao final do seu espetáculo , quem aquecerá minha cama não será você. ❞ outro passo à frente , as pernas quase se tocando , pegou uma das doses recém entregues , resvalando os lábios no vidro em um gesto que incorporava desafio. sorveu o líquido âmbar em um único gole , um sorriso curvando as feições.
❝ dedicar uma música ao seu fracasso agora me parece previsível demais. talvez eu deva escolher algo mais apropriado à sua natureza… ❞ o olhar percorreu-o lentamente , de cima a baixo , detendo-se como se em deliberação. ❝ you're so vain me soa como uma boa opção. ou , quem sabe , no scrubs. quase perfeita. ❞ inclinou o torso até que seus rostos estivessem a meros centímetros , suas respirações em uníssono pelo breve momento enquanto depositava o copo vazio com um tilintar contra a mesa. endireitou a postura com uma piscadela , lançando um beijo para matteo antes de prender os longos fios em um gesto casual. com confiança , marca da sua presença , virou-se em direção ao palco improvisado. ❝ para você , ricci ! espero que preste bastante atenção , porque não tenho o costume de repetir performances. ❞
os primeiros acordes de i'm that chick preencheram o espaço. a voz da gökçe , suave e provocativa , ecoou junto à melodia de mariah carey , capturando cada olhar presente. soltando os cabelos , antes presos estrategicamente , lançou-os para trás em um gesto que parecia uma declaração de êxtase. enquanto os saltos marcavam o compasso , aproximou-se de matteo , a destra escorregando pelo peitoral alheio , girando os quadris no ritmo da música. com um clique do grave , encarou a audiência , mantendo contato visual , um sorriso ladino sustentando cada passo. ensaiado pelo instinto , com os dígitos enredados na camiseta do mais novo , puxou-o para o palco , envolvendo os braços musculosos em sua cintura. usou-o como apoio para oscilar o corpo , acompanhando o groove com perfeição enquanto proclamava que seu sabor era tão doce quanto o de sorvete. os movimentos , precisos e calculados , incendiavam , e o loiro , finalmente rompendo seu estado de transe , ajustou as mãos ao longo do espaço entre costelas e quadril , encaixando beijos leves no pescoço feminino. os gestos , que normalmente a inflamariam , passaram despercebidos. o que fazia seu sangue vibrar era o triunfo , cada olhar fixo em si como um feitiço , e ela , o antídoto para a monotonia.
no último refrão , seus lábios enunciaram as palavras com clareza , como se fossem exclusivamente direcionadas a camilo. com o grave final , permitiu que o corpo fosse envolvido pela figura loira , as íris fixas às do moreno. o som da própria respiração e do sangue bombeando em seus tímpanos abafando a reação dos aplausos. com elegância desvencilhou-se de matteo , retornando à mesa originalmente para dois , a terceira cadeira uma intrusão em dissonância , com um sorriso doce desenhando as linhas femininas. ❝ não importa o quão encantadora você ache que sua teia é , algumas presas sabem exatamente onde estão pisando. ❞ o sussurro malicioso veio tão próximo que o calor da respiração de ambos se encontrou antes que ela recuasse. deixou escapar uma risada baixa antes de sentar-se novamente , um martini aparecendo como por encanto em suas palmas , refletindo as luzes do ambiente. brincando com o líquido , cruzou as pernas com um movimento deliberado. ❝ então , caro , sua curiosidade está saciada ou devo continuar ? como disse , é raro me repetir , mas se matteo estiver disposto , posso muito bem roubar a cena novamente enquanto você tenta acompanhar. ❞ movendo a taça para a direita , entrelaçou os dedos do loiro entre seus joelhos cruzados , um gesto em possessividade e provocação.
caso camilo se dispusesse a frequentar um terapeuta, provavelmente o escutaria racionalizar alguns mecanismos de defesa que o homem desenvolvera ao decorrer da vida, bem como ciclos viciosos aos quais ele estava preso. neslihan, para azar da própria moça, encaixava perfeitamente no tipo de situação em que o ricci acabava se colocando pela mera imaturidade emocional que alguém de sua idade não deveria ter. fosse ele menos traumatizado (ou ao menos capaz de lidar devidamente com seus traumas), provavelmente não depositaria tantos esforços naquela dinâmica, e certamente não estaria interrompendo o que era claramente um encontro - muito embora fosse visível a falta de química ali. e que não o entendessem errado: neslihan era exatamente o tipo de mulher que o atraía. tudo bem, ele também não tinha parâmetros tão rígidos e era mais do que comum vê-lo com todo tipo de pessoa. mas fato que, na lista de todas as suas preferências, gökçe gabaritava cada uma. desde detalhes menores como os olhos escuros e a altura acima da média, até coisas mais instigantes ainda como a personalidade forte e o temperamento colérico. mas naquele universo em que ele ainda era tão desequilibrado quanto podia ser, o que mais o instigava era o desafio e a auto validação que conquistá-la traria.
de modo geral, ele não era a pessoa mais competitiva do mundo, simplesmente porque um traço de personalidade desse exigiria esforços demais com muita frequencia. mas quando ele queria, sabia sim aplicar toda a sua energia em busca de uma vitória. naquele momento, por mais que pudessem pensar que a tal vitória vinha no formato da aposta, grande parte do seu real objetivo já havia sido conquistado. se ele receberia ou não a maior quantidade de palmas aquela noite (e tinha certeza de que o faria), já havia conseguido roubar neslihan do coitado que observava ainda perdido o caminho da conversa entre os dois conhecidos. o momento decisivo foram os segundos que antecederam as palavras da mais jovem, em que ricci não desviou o olhar do dela um momento sequer. ele sorriu com sua resposta; por mais que a frase estivesse repleta de desdém, ainda havia caído em sua teia. não se julgava mais esperto que neslihan, tampouco tinha a inocente crença de que a havia enganado ou qualquer coisa do tipo. sabia muito bem que, do mesmo modo que o ego de camilo se alimentava de toda a situação, o dela devia fazer o mesmo, pelo menos um pouco.
satisfeito com o rumo da conversa, ele ergueu o braço para pedir mais duas doses do uísque que havia roubado do loiro. "primeiro, não faça promessas que não pode cumprir, hani. e depois, há jeitos menos performáticos de calar a minha boca, mas acho que isso vai ser bem divertido de assistir." respondeu, o rosto iluminado por uma visível malícia. ergueu as sobrancelhas diante da proposta, apreciando a sugestão. antes de responder, porém, observou por sólidos segundos a figura agora em pé e ligeiramente inclinada de outrém, os olhos já escuros de camilo pareciam totalmente pretos enquanto percorriam cada centímetro de neslihan. "na verdade, você me deixou curiosíssimo para saber qual música dedicaria a mim." inclinou o próprio corpo para frente, ainda sentado, o olhar retornando ao dela. "além disso, não quero que me culpe quando você perder. então vai lá, me surpreenda."
a percepção de mais uma batalha perdida contra os próprios impulsos fez seus músculos se enrijecerem , enquanto o estômago ardia como se atravessado por uma corrente elétrica , carregando-a tal como um fio exposto , vibrando em ira e vivacidade. seus pensamentos , tudo menos indulgentes , orbitavam em torno da repulsa por sua falha e na abominação que acreditava encarnar quando confrontada com as feridas emocionais que ele parecia despertar com sua mera presença. o problema é você. a frase ecoava em sua mente , arrastando-a para um passado , onde em sua infância os fios dourados se tornavam pretos , e uma figura imponente pairava sobre ela , sufocando-a em submissão mental. as lágrimas infantis , pequenas , mas intensas , alimentando golpes emocionais que ainda reverberavam. podia quase sentir o gosto salobre na garganta antes de sacudir a cabeça , dispersando as memórias cáusticas.
seus olhos , ferinos e borbulhando com animosidade , fixavam-se com uma hostilidade peculiarmente reservada à figura loira. com uma calma traiçoeira que contradizia a eletricidade em seus nervos , repousou as mãos sobre a bancada. ele não merecia o privilégio de vê-la vulnerável , nem a satisfação de perceber o ímpeto visceral de estrangulá-lo que lhe aflorava. observou-o virar-se com desdém calculado , os movimentos meticulosamente ensaiados , enquanto um sorriso enviesado , desprovido de calor , curvou seus lábios. sua voz emergiu doce , quase melíflua , mas carregada de um veneno que nenhum esforço fazia questão de mascarar. ❝ mais engraçado e fascinante é como você parece saber tanto sobre mim a ponto de formular uma análise tão detalhada. talvez devesse considerar uma carreira em psicologia , porque , no direito , sabemos a fraude que é. ❞ seu tom , cortante , ecoava em sarcasmo.
❝ não perguntei sobre como brontë considera o amor uma força poderosa , arrebatadora e destrutiva , uma tempestade que transcende as normas sociais e o bem-estar pessoal. nem sobre como shakespeare o define como complexo , imperfeito e intrínseco ao ser humano. muito menos sobre a visão de austen , que o interpreta como ações e não palavras , respeito mútuo e entendimento profundo. perguntei o que você considera ser o amor , christopher. ❞ os olhos semicerraram num gesto de calculada ironia. ❝ talvez tolstói seja mais do seu gosto. ele o descreve como o ato de fazer o bem , a essência da vida , a fundação do mundo , uma força universalmente reconhecível , impossível de não ser compreendida. irônico , não ? o completo oposto de sua ladainha vazia. então , diga-me , como essas citações sustentariam seu ponto falho ? ❞ as palavras eram carregadas com o desprezo acumulado — passado , presente e , inevitavelmente , futuro.
❝ descrever utopias é infinitamente mais fácil do que vivê-las. o 'amor' é um desejo fabricado pelos que buscam preencher o vazio deixado pela verdadeira natureza humana — crueldade , desprezo e obrigações que nos afastam do que realmente queremos. no fim, não passa de um conceito , uma ferramenta para subjugar em nome de algo inalcançável. ❞ as aspas eram acompanhadas por um olhar incisivo , que estudava as reações alheias como um predador observando sua presa. ❝ ou talvez seja fácil falar do amor em ficção , como tantos antes de nós fizeram. mas , você não pode descrevê-lo na realidade , na prática , d'amato , porque nunca o sentiu. ❞ girou o líquido rubi lentamente no copo entre seus dedos antes de elevá-lo , canalizando em cada movimento o desdém crescente.
❝ não sou eu quem se acha detentora de uma razão suprema para discursar sobre algo que nunca experimentei. essa é a sua arrogância , não a minha. ❞ abaixando o vidro com delicadeza , permitiu a distância entre eles ser preenchida pela tensão. ❝ e não coloco a minha verdade acima da de ninguém , exceto daqueles que são moralmente inferiores a mim. isso se chama ter princípios , deveria experimentar tê-los , talvez assim criasse algo próximo de uma consciência. ❞ era uma dança de palavras afiadas como navalhas , cada uma estrategicamente lançada para encontrar brechas na impecável fachada do adversário. por um instante ponderou continuar com o assunto ou simplesmente levantar-se e dar as costas , quando a menção do próprio fracasso despertou ódio em suas veias. neslihan encontraria a ferida de christopher e a faria sangrar como nunca antes. ❝ você é desprezível. quantas pessoas sabem do verdadeiro monstro que você é ? ou prefere se esconder atrás dessa empáfia calculada , apenas para evitar sufocar por tudo que reprime ? ❞ o gosto do negroni parecia menos amargo do que o que sua fala deixava no ar. não se tratava apenas do orgulho ferido , mas a memória viva de tudo que kadir şahverdi havia conquistado às custas de inocentes , auxiliado pelos homens rizzo , era como derramar ácido em sua alma , em seu senso. algo que o outro seria incapaz de desenvolver nem mesmo em mil vindas ao plano terreno.
a verdade era , de longe , a coisa mais vulnerável a se compartilhar com alguém , e a sua a corroía em pequenas e dolorosas doses , não permitiria que ele tivesse aquele tipo de influência sob si. ❝ um brinde à miséria , d’amato , que ela continue sendo a musa inspiradora da sua eterna arrogância. ❞ sorveu outro gole elegante , antes de repetir a saudação sem a mesma teatralidade. por uns instantes repousou o cenho sobre os dígitos sustentados pelos braços apoiados contra a bancada , como se apenas assim pudesse conter o caos em seu interior.
A princípio, a risada não havia chamado a atenção de Christopher, afinal, haviam pessoas demais ali e o alvo de riso podia estar em qualquer lugar, porém a voz que se fez audível no segundo seguinte, para seu total desprazer, era de alguém que ele conhecia bem o suficiente para saber que toda aquela ironia contida era dirigida a ele.
Devagar, se virou na direção dela, não fazendo a menor questão de esconder a expressão clara de descontentamento em seu rosto. "Só uma pessoa como você, Gokçe, para achar que alguém precisa ser autoridade para falar sobre algo que, no fim das contas, é inerente a cada ser humano." Sarcasmo se mesclava ao desprezo emoldurando cada palavra pronunciada em seu tom naturalmente calmo enquanto fixava seus olhos no rosto alheio. Para ele, não havia a menor possibilidade de alguém conseguir falar com exatidão sobre o sentimento, afinal, cada um o sentia de uma forma, por isso o amor era retratado de tantas formas diferentes em livros e canções. E era exatamente por isso que o considerava um sentimento tão bonito: pela sua forma de se adaptar.
O indicador circulava a circunferência do copo enquanto ele esperava, da forma mais calma possível, ela falar. Vez ou outra, arqueava a sobrancelha conforme a irônia parecia crescer em suas declarações. Quase soltou um palavrão ao vê-la ajustar a postura, como se ela o estivesse dispensando de uma conversa da qual ela sequer fazia parte a princípio. Em diferentes ocasiões, ele sequer se daria ao trabalho de respondê-la, mas naquele dia ele já havia engolido seu desconforto vezes o suficiente a ponto de se recusar a fazê-lo de novo. Em busca de manter os nervos em seus devidos lugar, Christopher levou o copo aos lábios, sorvendo o restante do whisky em um gole único, e logo após, gesticulou para que o garçom efetuasse a reposição de bebida. Ela podia considerar o assunto encerrado, mas ele não.
"Engraçado como um elogio vindo da pessoa errada é capaz de causar tanto desconforto, não acha?" Comentou em tom divertido, apenas porque sabia que iria incomoda-la ainda mais. Claro que ele sabia que os tais elogios haviam sido feitos de forma sarcástica, mas se recusava a cair na provocação. "Sabe, eu poderia citar trechos e mais trechos de renomados nomes da literatura, músicas de todos os estilos possíveis que falam sobre o amor, mas ainda assim você não iria compreender, porque no fim das contas, o problema não é na existência ou não do sentimento, o problema é você." Agradeceu o garçom com um aceno breve de cabeça ao ter o copo preenchido novamente. "Você que acredita ser tão dona da verdade que quando acha alguém que pensa e age diferente de você já se acha no pleno direito de se colocar como certa." Independente da irritação que sentia, Christopher manteve o tom ameno e os sentimentos devidamente camuflados em uma máscara de tranquilidade que já estava mais do que habituado em utilizar. "Fora que é extremamente engraçado você se achar no direito de falar sobre fracasso comigo, já que visivelmente fica remoendo o seu até hoje." Sim, aquele havia sido um golpe baixo, afinal. ele entendia perfeitamente a frustração que perder algo para uma figura paterna, mas naquele momento pouco importava. Ela até poderia ter sucesso em tornar o dia dele ainda mais miserável, mas ele não se sentiria miserável sozinho. "Cheers to our own misery!" Ergueu o copo como se estivessem brindando e mais uma vez o levou aos lábios, sorvendo um longo gole e então virou-se novamente para frente, decidido a não dirigir a palavra à ela novamente.
partner in justice : @oliviafb !
o ritmo apressado dos passos denunciava o nervosismo que corroía neslihan diante de seu evidente atraso. cada minuto perdido parecia uma afronta à sua agenda meticulosamente planejada , onde os compromissos se entrelaçavam com precisão cirúrgica. a mera ideia de desperdiçar um segundo era quase risível — e , no entanto , ali se encontrava , quase meia hora além do combinado com olivia , cujas as suas insistências para aquele encontro haviam sido tão persistentes quanto conhecidas. afinal , ambas sabiam o que as aguardava , tendo trilhado aquele exato caminho antes. supostamente , deveria estar vestida de maneira casual — ou tão próxima de casual quanto seu closet permitia , mas lá estava , com a questionável decisão de permanecer com os saltos profissionais. cogitou brevemente retornar ao carro e abandoná-los antes que se tornassem instrumentos de desastre , tal desvio , no entanto , apenas adicionaria mais dez preciosos minutos à conta de seu atraso. restava , então , a opção de descartá-los na entrada ou ser extremamente cautelosa. quando finalmente o lúdico edifício surgiu no horizonte , um sorriso instintivo tomou-lhe os lábios , acentuado pela reconfortante explosão de cores que aquecia seu espírito. o alívio se instalou momentos antes de seus olhos captarem a figura do outro lado da fachada de vidro. murmurando desculpas ainda inaudíveis , acelerou os passos para consumir a distância restante , atravessando a porta com presteza quase teatral. ❝ eu sei, eu sei ! estou terrivelmente atrasada , liv , eu sei… mas juro que estou a um triz de enlouquecer ! ❞ exalando um suspiro , cumprimentou-a com um beijo em cada bochecha , e uma nuvem do próprio perfume , antes de voltar sua atenção e expressão sorridente a uma das responsáveis , cuja presença usualmente adornava a recepção. ❝ carina , nós duas sabemos quem olivia veio encontrar , mas para ela é uma completa surpresa. ❞ piscou de forma exagerada , a voz carregada de humor. ❝ está preparada? ❞ a energia que emanava era contagiante , com o coração batendo em um ritmo acelerado de pura animação.
@khdpontos
o conceito de uma cidade atrofiada em sua evolução arrancou um riso discreto , ainda que pleno de ironia. o alívio que inundou sua expressão ao ouvir a negativa foi quase tangível , como se a mera possibilidade de graziella — cuja alma poderia jurar ter cruzado em outras vidas — se rebaixar à credulidade de algo tão absurdo fosse uma afronta dolorosa , tanto mental quanto fisicamente. afinal , se fosse o caso , teriam que enfrentar mais uma daquelas intermináveis… amigáveis discussões sobre a giordano se permitir ser intelectualmente negligente. ❝ ah, dinheiro… deveria ter suspeitado. ❞ os lábios se curvaram em um sorriso que ecoou o da amiga, acompanhados por um riso cristalino . a cada descrição proferida , meneava a cabeça em concordância admirada. ❝ sua habilidade para arrancar dinheiro das pessoas nunca deixa de me impressionar. ❞ admitiu , afastando delicadamente algumas mechas castanhas que o vento havia espalhado sobre o rosto. não que ella fosse menos que uma dádiva ; muito pelo contrário, a marca rivalizava acirradamente com os la mer, reinando em conjunto no balcão amplo de seu banheiro. ❝ e é exatamente por isso que sou advogada e não empresária. jamais teria a criatividade para transformar um circo desses em algo lucrativo; para mim , só inspira um desprezo inexplicável. ❞ a declaração foi seguida de um leve arrepio que percorreu a espinha ao pensar no assunto. erguendo novamente os olhos castanhos , agora fixos nos azuis cálidos de graziella , a troca foi suficiente para um entendimento mútuo. ❝ il giardino ? ❞ sugeriu com naturalidade. embora o restaurante fosse famoso por sua interminável lista de espera , entre gökçe e martinez-giordano , sempre havia uma forma de transformar o impossível em algo acessível.
A reação retirada da melhor amiga poderia até ser divertida se não mexesse com seu intelecto. O rolar dos olhos claros foi visível enquanto se aproximava mais de Neslihan. "Mas é claro que não. Isso é histeria coletiva, como já teve diversas vezes nessa cidade mal evoluída. Contudo..." Fez uma pequena pausa dramática ao ter o braço entrelaçado ao seu e aproveitou da aproximação para se inclinar e murmurar baixo próximo ao ouvido da amiga. "Isso não me impede de ganhar dinheiro." Finalmente disse, o sorriso voltando ao seus lábios, agora de maneira um tanto mais larga. "Imagine a quantidade de maquiagens e perfumes para usar com, uh, seu amor." Falou as últimas palavras com uma careta. "Ou o vinho certo para combinar em seu primeiro encontro depois de apaixonados." Soltou um suspiro exagerado escapar, como se sonhasse, e depois deu uma risadinha. "E como em um passe de mágica, esses trouxas vão me deixar cada vez mais rica." Finalizou, olhando de lado para a amiga. "Almoço?"
o vínculo entre neslihan e aaron poderia ser comparado ao eterno jogo de ação e reação entre o sol e a lua. tão distintos em essência , compartilhando o céu apenas nos breves instantes de aurora e crepúsculo , coexistindo em uma dança que , embora incompreensível para olhos alheios , é indispensável. mesmo ela , se questionada , teria dificuldade em definir a complexidade da relação ; apenas sabia que funcionava – e há muito. a presença ranzinza era , paradoxalmente , um bálsamo de familiaridade , uma constante tão intrínseca que a falta de energia contagiante dele , em contraste ao frenesi natural que percorria suas veias , mal se registrava. ❝ eu até poderia sugerir que você tentasse adivinhar , mas honestamente , não creio que seu cérebro esteja em plena capacidade no momento. ❞ as palavras , proferidas com humor, eram acompanhadas de um piscar divertido, enquanto os olhos castanhos brilhavam. ❝ então… dois pacientes da ala psiquiátrica de siena – ou de volterra , quem sabe ? – decidiram acordar a cidade proclamando aos quatro ventos que… veja bem… estão apaixonados. e que a “maldição” foi quebrada ! ❞ o gesto das aspas enfatizadas pelos dedos foi pontuado por um tom de escárnio que transbordava descrença. ❝ consegue acreditar nisso ? francamente , a humanidade nunca deixa de me impressionar com o talento inigualável para a estupidez. ❞ enquanto tamborilava as unhas pintadas de vermelho cereja sobre o menu , saboreou outro gole do líquido quente à sua frente. ❝ será que eu te choquei a ponto de nem pedir o de sempre ? ❞ permitiu que uma breve sombra de preocupação transparecesse antes de um sorriso retornar aos seu lábios.
"Duas, três...não sei", murmurou baixinho, meio sem ânimo, enquanto passava o olhar pelo cardápio já decorado. Ele coçou a testa, bem acima da sobrancelha esquerda, diante da pergunta da amiga sobre o jornal. "Hum...não. O que foi dessa vez?". De um modo geral, ele tentava se manter alheio às fofocas da cidade, mas algumas eram tão grandes, que não tinha para onde fugir. E, diante do tom da amiga, aquela parecia uma das que realmente não poderia ignorar. Por isso, deixou o cardápio de lado e se inclinou na direção dela, apoiando os braços na mesa. "Okay, Nes, shoot! I'm ready".
o frisson , habitual nos diálogos em que antecediam os fugazes encontros de atração carnal que escolhia compartilhar , parecia percorrer cada recanto do ambiente , exceto entre neslihan e matteo. a figura loira destoava de suas predileções habituais ; preferia os cabelos mais escuros e íris cálidas em tons de âmbar ou ébano , distantes do olhar glacial , quase translúcido , que comparava ao de um peixe recém abatido. tampouco a idade lhe era favorável , com dois anos a menos que seus próprios vinte e nove , ele possuía ao menos sete ou oito anos de experiência abaixo do que costumava considerar atraente — em homens , é claro , as expectativas para mulheres eram muito mais fáceis de serem alcançadas. as únicas ressalvas alheias que harmonizavam com os seus desejos se resumiam ao porte impressionante que a subjugava por mera presença , o timbre sólido e , sobretudo , o fato de ser um completo desconhecido. relacionar-se com estranhos era um hábito cultivado há muito , uma escolha imprudente que continuava a alimentar sua ânsia por adrenalina e pelo inesperado , pela surpresa oculta no inexplorado. era essa mistura de imprevisibilidade e intriga que sustentava o sorriso enigmático e os olhares sugestivos que lançava ao homem. restava aceitar aquele desleixo do destino — a menos que uma intervenção mística viesse a conspirar em seu favor.
com os lábios alheios moldando palavras que não passavam de ruído , seus pensamentos deslizavam para o estado de histeria que dominava a cidade. entre acenos estrategicamente calculados e murmúrios de concordância que preenchiam as lacunas , ela podia sempre confiar no ego masculino para sustentar uma conversa inteira com nada além do som da própria voz. o martini aguardado tornava-se sua verdadeira ambição naquela noite , muito mais do que a promessa de um desfecho que seria , sem dúvidas , insatisfatório. com a taça translúcida em mãos , o primeiro gole mal atiçava o paladar , quando sentiu a presença de camilo antes mesmo da familiar voz ecoar. a irritação emergiu automática , traduzida em um revirar de olhos exasperado e no ceder breve dos ombros a um suspiro fatigado. não era exatamente aquela intervenção mística que havia imaginado.
embora fosse indiscutivelmente grosseiro de sua parte , entre matteo e o ricci , os olhos escuros de neslihan , incendiados pela impaciência , seguiam meticulosamente os movimentos do mais velho. e antes mesmo de conseguir estabelecer conexão lógica entre a fala e o jogo de olhares alheio , camilo conseguia arrancar um impulso competitivo e o desejo de antagonizá-lo , tudo em uma única frase. com uma sobrancelha levemente arqueada, aguardou em silêncio tenso , capturando , de relance , a expressão de horror em seu encontro , antes de dignar a interrupção com uma resposta. ❝ se for para manter a sua boca fechada , aposto muito mais do que uma música. ❞ sabia que suas palavras seriam distorcidas antes mesmo de deixarem seus lábios , mas já era tarde demais. com um sorriso exageradamente enfatuado destinado a sua companhia perplexa , levantou-se , alinhando o vestido que escolhera com intenção e empurrando os fios para trás dos ombros , antes de voltar sua atenção para o moreno. ❝ no espírito de um jogo limpo , você pode até escolher a música que deseja que eu dedique ao seu fracasso , caro. ❞ pendendo o quadril ligeiramente para o lado , encaixou a destra na curva da cintura. estava mais do que disposta a cumprir sua promessa , calá-lo , nem que de maneira física… com a própria palma e um estalo seco contra a pele.
🎱 uma aposta com @neslihvns
“eu tô falando sério!” reforçou, com a expressão menos jocosa que ele conseguia. “opa, da uma licencinha aqui, campeão” disse, folgado como sempre, puxando uma cadeira para se sentar entre a jovem e seu encontro. sabia lá qual era o nome do rapaz que originalmente estivera na posição de acompanhante de neslihan e agora parecia confuso e devidamente ofendido por ter sido jogado para escanteio, e também não queria saber. o que importava era que agora os olhos grandes e bonitos da turca estavam em sua direção, brilhantes e escurecidos pela irritação, como ele bem gostava. camilo era mesmo um grande sem noção, mas era inegável que sabia chamar atenção. até mesmo alguém como neslihan, que certamente não tinha a menor intenção de ofender o loiro sem sal que observava a conversa alheia de braços cruzados, poderia encontrar dificuldades para ignorar a presença do ricci. não porque ele era exatamente irresistível; era só que ele era terrível e irremediavelmente insistente, mesmo. “é tudo sobre carisma e um grande espetáculo. qualquer um com uma voz meia boca pode ser famoso, se tiver personalidade o suficiente” piscou-lhe um dos olhos, dando a entender que ele tinha certeza de que, se quisesse, poderia ser uma celebridade. não havia começado aquele assunto por nenhum propósito específico, mas sorriu sozinho ao perceber que poderia usar o instinto da mais jovem de contraria-lo a todo custo a seu favor. “então vamos fazer uma aposta” disse, as mãos batendo na mesa e tremendo um pouco os copos que ali estavam. “quem conseguir mais aplausos, vence” apontou para o palco onde uma senhora cantava muito desafinadamente a música ‘dancing queen’, acompanhando a letra no telão do karaokê. “a não ser que tenha medo de perder, claro” e pegou o copo do rapaz, bebendo todo o restante do uísque que continha ali, dando uns tapinhas de agradecimento no ombro do homem embasbacado.
com os antebraços apoiados contra a pegajosa bancada , a pele despida do blazer e sobretudo se arrepiava contra o ar palpável do the loft. neslihan questionava se aquela realmente era uma boa opção para finalizar o dia que a exaurira , mas a certeza de negronis de proveniência questionável — dos quais já havia consumido o suficiente para justificar a postura desalinhada — firmava sua permanência por um interlúdio. o gravame psíquico arqueava os ombros , os nervos tilintantes suprimindo o que restava de paciência em seu âmago , e somente a noção de estar sozinha , ainda que cercada de pessoas , a fazia respirar pausadamente em tentativa de conter o ímpeto que se alastrava. não só pela sandice que parecia ter tomado khadel que o estado de humor mordaz da gökçe se manifestava , mas também pelo caso de severidade peculiar que havia chegado em suas mãos — a complexidade similar ao último , e único , litígio malsucedido de sua carreira. a memória escaldante , marcada não só pela vaidade ferida , mas pela sensibilidade do assunto e as figuras associadas , permanecia um peso em suas entranhas , a impregnando de amargura. por breves instantes almejou uma presença com quem pudesse exorcizar o sentimento , mas rapidamente rejeitou a noção como uma simples frivolidade. o fim de mais um negroni entre as palmas — frias ao toque , mas abrasadoras contra o delicado vidro — , preparava-se para adornar as feições com um breve sorriso e solicitar outra sequência do drink , quando os sons dispersos do bar e o inconfundível timbre da última pessoa que desejava encontrar , fosse naquele instante , ou em qualquer outro , se quisesse ser honesta , a alcançaram em um único impulso. todo o amargor que fervilhava em seu íntimo encontrou escape diante da voz que transbordava arrogância, como se a verdade fosse sua propriedade exclusiva , e ele , o único digno de desvendá-la. a risada carregada de escárnio escapou os lábios ainda tingidos do habitual carmesim antes mesmo que pudesse pensar em reprimi-la — não que fosse fazê-lo de qualquer forma. ❝ ah , claro... e você é a maior autoridade em amor que existe , não é mesmo , d'amato ? ❞ as orbes vagamente turvas atinham-se ao homem , a meros dois bancos de distância. a quanto tempo ele estava ali?
❝ com todas as suas brilhantes músicas e poesias verbais , como não ser. ❞ os lábios repuxavam-se sutilmente em ironia , o desprezo francamente exposto. ❝ conte-nos mais sobre o que é o amor , como é o sentimento , christopher ? é ser superficial e arrogante ? dar as costas a quem precisa ? ou fazer tudo o que é mandado somente para não ter que lidar com o sentimento de fracasso ? ❞ a cada questionamento o corpo inclinava em direção a ele , o olhar ácido corroendo a si mesma. ❝ é claro que a maldição é uma falácia , mas não porque ninguém — além de você , é claro , chris- ❞ o epíteto soava como um sibilo na língua feminina. ❝ sabe identificar o amor , mas pelo simples fato de que. o. amor. não. existe. ou você acha mesmo que se existisse o mundo seria como é ? ❞ considerando o assunto encerrado , o ar nocivo , até então aprisionado em seus pulmões , finalmente expelia. ajustando a postura com precisão , os olhos se fixaram na rodela de laranja que adornava o copo , como se fosse um ponto de contemplação existencial.
closed to @neslihvns, no bar.
Era final de tarde quando ele entrou no bar. Após um longo dia, repleto de comentários e da presença desnecessária do pai em seu escritório, a única coisa que Christopher conseguia pensar era que precisava de uma boa dose de whisky. Talvez mais de uma, isso se ele quisesse ter chances de acordar relativamente bem humorado no dia seguinte.
Acomodou-se em um dos bancos próximos da bancada e esperou pelo atendimento. Geralmente quando ia ali, Christopher exibia um sorriso simpático, que fazia com que as pessoas quisessem se aproximar dele naturalmente, mas naquele momento, seu esgotamento mental era tamanho que ele sequer era capaz de fingir normalidade. O garçom, que já o conhecia, tentou puxar assunto enquanto servia a dose costumeira de whisky, falando sobre as recentes histórias dos apaixonados, mas tudo o que conseguiu foi incomodá-lo mais.
"Você realmente acredita nessa história de maldição?" Questionou, o cenho franzido em uma clara expressão de julgamento. "Não te causa nem um pouco de estranhamento um monte de gente que se julgava incapaz de amar começar a amar após dois estranhos saírem gritando que estão apaixonados?" Os dedos se fecharam ao redor do copo que prontamente foi levado em direção aos lábios para que ele sorvesse um gole curto do líquido âmbar. "Isso não existe. Esse boom de histórias nada mais é do que um efeito manada. O amor sempre esteve por aí, e graças ao fato da maioria não saber como senti-lo, criou-se essa história boba pra ser usada como justificativa." Finalizou como se estivesse dizendo algo óbvio, não percebendo um rosto conhecido que estava próximo.
o ritmo da manicure amendoada batendo contra a madeira maciça da minúscula mesa , que já tinha o seu nome e de aaron afixado , enquanto conferia a sua caixa de mensagens em meio ao burburinho da piazza , era o único indicativo externo de inquietação de neslihan. a energia em excesso não era incomum , mas antes mesmo de consumir sua dose tripla de cafeína pela manhã? uma , quase , raridade , mais incaracterística até do que o atraso alheio . naquele momento , os minutos que o relógio caminhara além das sete horas , sequer haviam registrado , quando o timbre masculino , e pesado , fê-la saltar no assento. ❝ cavolo ! ❞ levando uma das palmas sob o ritmo repentino em seu peito , fitou atordoada o blackwell por alguns instantes. ❝ uh? ah-ainda não , estava te esperando… ❞ as horas no adereço envolto no delicado punho fizeram-na franzir o semblante momentaneamente. a gökçe jamais perdia a noção do próprio tempo . ❝ não faz mal , eu posso forçar meus horários um pouco mais tarde . ❞ o repuxar dos lábios era genuíno então , os músculos relaxando lentamente. ❝ quantas horas foram hoje ? duas ou três ? ❞ folheando o menu , mais por hábito do que necessidade , arqueou uma das sobrancelhas para ele antes de recitar o próprio pedido. gostava de variar , mas àquela altura , todos os pratos e bebidas do pequeno café , espremido entre uma floricultura e gelateria , já haviam agraciado o seu paladar. ❝ ao menos não foi acordado pelo escândalo que arrumaram por toda cidade… já teve chance de ler o jornal ? ❞ questionaria se havia conversado com alguém mais , mas era aaron em sua frente. tão improvável quanto ela acreditando em magia. com o ristretto entre as palmas , inalou o aroma inebriante antes de bebericar o líquido escuro , soltando o suspiro preso em seus pulmões desde que lera a manchete — ainda em seu roupão e com mark ruffalo deitado sob os seus pés. ❝ está preparado para o mais novo absurdo que estão inventando ? ❞ sarcasmo era tão fluente entre eles quanto o italiano ou inglês .
Aaron puxou a cadeira em frente a Nes em um movimento cansado, pedindo desculpa pela demora. Normalmente, ainda que saísse tarde do trabalho no bar, ele não costumava se atrasar. Cumpria rigorosamente — quase religiosamente — a tradição de tomar café da manhã com a melhor amiga. E, por mais que não fizesse esforço pela maioria das pessoas, ela conseguia ser sua exceção. "Você já pediu a sua comida?" Blackwell puxou o cardápio, mas já sabia o que queria, porque sempre pedida a mesma coisa todos os dias. Não gostava de mudanças. Então, ia ser o mesmo café com leite e pão com ovos de sempre. "Acabamos fechando o bar bem tarde ontem e", deu de ombros. "Sei lá, não consegui acordar". @neslihvns
o sobretudo cilhando aperto sob a cintura era o único sentimento reconfortante para neslihan naquele dia . os sussurros lhe arranhavam os tímpanos e arquejos esperançosos como sal em ferida aberta , um verdadeiro pandemônio para a morena , que , ali , mais do que nunca , desejava ver khadel pelo retrovisor do seu alfa romeo . exasperada , o trilhar dos saltos ecoavam como o pulso nas têmporas , a pressão por detrás dos olhos indicativos certeiros de uma enxaqueca , caso não se distraísse do circo de barbaridades que a cidade havia se tornado . ponderava se uma taça de vinho às nove da manhã seria tão mal vista assim , afinal em algum lugar do mundo já se passava das nove da noite , quando os longos fios escuros de graziella adentraram sua visão . um suspiro em alívio passou pelos lábios da gökçe , um breve sorriso desenhando as feições , quando captou as palavras da outra ao aproximar . ❝ madonna , grazi , até você ? ❞ o som que escapava a garganta era quase um rosnar . ❝ realmente acha que esse conto de horror tem algum fundamento lógico ? ❞ meneando a cabeça em incredulidade , voltou o olhar para o céu nublado de inverno , os ombros caindo ao soltar uma longa respiração. ❝ eu conheço esse sorriso… o que você poderia ganhar com toda essa insanidade , além , é claro , de uma enorme dor de cabeça pelas próximas semanas até uma nova traição ser descoberta e escandalizar todo mundo ao silêncio ? ❞ indicando com um olhar para a direção onde seguiam , envolveu o próprio braço no alheio .
@khdpontos
WHERE: PIAZZA MONTALDI WHO: Graziella & MUSE ( @khdpontos )
"Dios Mio." O murmúrio em tom de reclamação era evidente dos lábios de Graziella enquanto batia o salto alto no chão da praça. Em qualquer lugar que andava só sabiam dizer somente de uma coisa: os novos seres apaixonados. Até uma matéria no jornal como manchete principal podia ser vista nas mãos de quem lia no banco da praça. "Como o ser humano gosta de se prender na esperança né? Não se sabe falar de outra coisa agora. Se bem que.." A morena parou abruptamente, um sorriso malicioso aparecendo em seus lábios. "Isso pode ser interessantemente maravilhoso ao meu favor."
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